eugenia corazon

Pequenas Criaturas
Rubem Fonseca
2002, Companhia das Letras

A impressão que a gente tem é de que Rubem Fonseca é um sujeito organizado. Ele foi dos primeiros a usar o microcomputador para escrever suas obras. Parece que Fonseca vai guardando idéias para suas histórias: começos de romances, diálogos espertos, personagens atraentes. O livro Pequenas Criaturas dá a impressão de ser produto da compilação desse material, compondo um conjunto de pequenos contos. As pessoas das histórias não são discretas. Contos não deixam muito tempo para a apresentação dos personagens. O autor tem que nos amarrar desde o primeiro parágrafo, para ficarmos motivados a seguir em frente e devorar as poucas páginas do conto. Alguns deles deixam a primeira impressão de que poderiam atingir a maioridade, virarem romances, entretanto logo percebemos que a concisão e cores fortes das pequenas peças são mesmo adequadas para as miniaturas. A arte dos contos é domínio de Rubem Fonseca. O autor de clássicos como Feliz Ano Novo, O Cobrador e Confraria de Espadas, maneja com maestria os elementos de pequenas histórias.

Assim é Pequena Criaturas. Rubem está afiado e agradável como sempre. Diálogos tendendo ao humor, mudanças repentinas no rumo nas histórias, brincadeiras com o vocabulário, personagens desprovidos de ética, tudo coisas comuns ao universo do autor. É curioso que o estilo de Rubem me pareça forte exemplo do escrever masculino. Sua visão das mulheres é exterior. Rubem não pensa o feminino. Seus homens são mais determinados ou maníacos. Suas mulheres mais frágeis e mais expostas à loucura masculina. Fonseca é um retratista virtuoso do apreciar do homem sobre as mulheres.

Os personagens de Pequenas Criaturas se explicam, justificando suas fraquezas e mesquinharias, fazendo pequenas avaliações da vida, as quais norteiam e sustentam suas ações, tudo na dosagem suficiente para que acompanhemos as pequenas histórias flagradas pelo autor. Como criaturas, são pequenas. São pequenos medos, pequenas ambições, crimes por pouco motivo, poucos ganhos. O amante do conto Soma Zero resume seu conformismo dizendo: "A vida é um jogo de soma zero. O que ganhamos todos os dias é zero?". São esses perdedores que, ao longo do livro, catalogam relações sexuais, partem de um pequeno crime e justificam a evolução para delitos maiores ou têm pequenas fixações. É o síndico militar aposentado, a vendedora sozinha cujos pés lhe doem e o assassino revoltado pela diferença de classe (que forçosamente nos lembra personagem semelhante de O Cobrador, de 1979), são variações sobre tipos inesquecíveis, ou imediatamente esquecidos, conforme a memória do leitor preferir. As pequenas criaturas – os contos – são realmente pequenos, poucas páginas cada um. E são uma dádiva para quem deseja ler um pouco antes de dormir. O problema é que uma história puxa a outra e a gente vai noite a dentro explorando as pequenas pessoas que Fonseca nos apresenta.


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31maio2002
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