Os Sonhos Não Envelhecem: Histórias do Clube Esquina
Márcio Borges

2002,
Editora Geração

Tempos atrás, uma amiga chamou a atenção de minha mulher para um livro editado em 1996 e que passou despercebido. Ele foi reeditado agora. Trata-se do livro Os Sonhos Não Envelhecem: Histórias do Clube Esquina, de Márcio Borges. Essa nova edição é acompanhada de um CD com algumas canções importantes.

Um dos fundadores do movimento da música mineira, que surgiu nos anos 60 e invadiu os anos 70, Márcio Borges nos conta, com muita delicadeza, a história desse grupo de jovens que criou uma forma diferente de fazer música, num período já muito fértil do ponto de vista da criatividade musical no Brasil. Teria sido muito fácil seguir um caminho aberto pela bossa nova ou aderir a algum novo movimento musical como o tropicalismo ou a jovem guarda. Mas os mineiros tinham uma coisa especial dentro de si. Uma coisa nova. Diferente.

O livro nos conta, sobretudo a história de Milton Nascimento, o Bituca. Ele foi o grande artífice desse movimento. Mostra como o processo de criação operava naquele ambiente e mostra toda a genialidade desse artista. Fala da forma revolucionária que ele utilizava pra compor e criar. Mostra aspectos importantes de sua personalidade sem se ocupar com fofocas ou questões pessoais que não sejam relevantes para o processo de criação do artista.

É muito prazeroso acompanhar as histórias da composição de algumas músicas muito conhecidas como Travessia, Paula e Bebeto, Clube da Esquina e Vento de Maio. Além de Milton, pode-se acompanhar o início da carreira de músicos e compositores importantes como Wagner Tiso, Toninho Horta, Beto Guedes e Lô Borges.

Tendo sido o primeiro parceiro de Bituca, Márcio Borges mostra bastante generosidade e humildade ao reconhecer o talento e até alguma superioridade em outros dois parceiros muito importantes de Milton Nascimento; Ronaldo Bastos e principalmente Fernando Brant. É possível, conforme se desenrola a história, perceber o quanto esse letrista é genial. A cada passagem do livro envolvendo Fernando Brant, extrai-se uma obra prima. E além de um parceiro criativo, Ronaldo Bastos revela-se também muito importante na produção de discos e shows de Milton Nascimento.

O livro é delicioso. O autor consegue nos transportar para cada lugar e cada época[,] nos proporcionando intimidade. Desvenda a Belo Horizonte do regime militar e revela a família tipicamente mineira. Oferece, sobretudo a sua família, abrindo as portas da casa dos Borges, pra que consigamos entender mais facilmente o ambiente em que aquela criatividade toda pôde ser extravasada.

Sei bem o que é isso. Tenho amigos mineiros e conheço a sua hospitalidade. Não há nada parecido. E mostrando os integrantes do clube da esquina migrando pra São Paulo ou Rio de Janeiro mas sempre voltando pra Minas, o livro confirma uma convicção minha. A de que o mineiro, entre todos os brasileiros, é o povo que mais sente saudades de sua terra. Mineiro é louco pra voltar.

Mesmo quando fala da barra pesada que foi a época violenta do regime militar, o livro não perde o lirismo. Toda a narrativa é composta com muita saudade. Não aquela saudade triste que reclama que o tempo bom não volta mais. Uma saudade alegre de quem sabe que os sonhos não envelhecem. Não envelhecem e nem acabam. Eventualmente são substituídos.

É um livro pra quem gosta de música, pra quem gosta de história, pra quem gosta de sonhar.

- Arnaldo Heredia -

 

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19outubro2002
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