O Tigre e o Dragão Crouching Tiger, Hidden Dragon A bobagem marcial de Ang Lee
A imprensa em geral usou vários artifícios para elogiar o novo filme do consagrado diretor Ang Lee (de O Banquete de Casamento e Razão e Sensibilidade). As críticas comentam a ousadia de Lee em filmar uma história do desprestigiado gênero "kung fu" e desandam a elogiar os efeitos especiais das lutas e perseguições onde os atores parecem voar, livres, leves, soltos das garras da famosa gravidade. Tá legal: comecemos pelos efeitos visuais. São ridículos! Usaram-se arames para pendurar os atores e lançá-los pelos ares com o resultado final deles parecerem ... estar amarrados em arames sendo arremessados pelos ares!? Uma bobagem. A plástica das lutas marciais é pervertida para mostrar monges voadores que mais parecem antigas montagens do Super Homem. Deve ser alguma nova técnica de marketing que se aproveita daquilo que se faz ruim (como é o caso de todo esse aparato de equipamentos e computação gráfica usados com resultado sofrível) e divulga como sua melhor qualidade. Os movimentos - em geral pouco elegantes - dos monges só servem para engrandecer a coreografia inovadora que Matrix trouxe para o cinema. Curioso que, nos dois filmes, o responsável é o mesmo coreógrafo Yuen Woo-Ping. Me perdoem, se é para mostrar coreografia de lutas, o mestre Bruce Lee ainda domina o cenário. Bem, mas se os tão falados efeitos especiais não são bons, o que sobra? Pouco. O grupo de atores de filmes de ação chineses se esforça para conduzir uma história medíocre de monges lutadores, mestres, discípulos, seitas e bota lugar-comum chinês nisso. A atriz Michelle Yeoh, que ficou famosa como parceirinha de James Bond, usa de persistência oriental para demonstrar um amor enrustido pelo grande mestre Li Um Bai, interpretado por Chow Yun-Fat, de Anna e o Rei. Desperdício. Nós também temos que nos esforçar muito para conseguir acreditar nas herméticas caretas que a moça produz. Ao menos, salva-se a novata Zhang Ziyi, que brilhou em nossos cinemas recentemente em O Caminho de Casa. A moça é de uma beleza cativante e atua com perfeição. Pode-se dizer que ela, além da impossível agilidade de seu personagem, também usa de muita força para carregar a pouca graça do filme. No mais, o que chama atenção em O Tigre e o Dragão é a campanha de lançamento. O filme aparece com unanimidade na mídia, com grandes recomendações. Mas é um embuste. Não é um dos bons filmes de Ang Lee. Não é um bom filme de lutas. A brincadeira com os arames é uma presepada cinematográfica. O trabalho dos atores é massacrado pelo inverossímil da história. As distribuidoras/produtoras Sony e Colúmbia souberam vender bem este produto chinês. Diz-se: O filme resgata o gênero de lutas chinês! O filme é falado em mandarim! É um épico! Quanta besteira. Épico de lutas oriental foi Os Sete Samurais. Mas isso é outra história. Este filme é como um bem acabado sapato Made in China para vender no mundo todo e ainda saciar o mercado do bilhão e tantos de chineses. Ang Lee vai ter um público imenso para sua experiência com filme de artes marciais. Mas, na nossa avaliação, contabiliza-se menos um ponto para o diretor. Mais um ponto para as eficientes jogadas de marketing. E perdemos nós que vamos sendo enrolados pela indústria cinematográfica. - Ernesto Friedman - envie agora seu comentário sobre este artigo opinião dos leitores sobre o artigo acima ( ver artigo ) 15.04.2003
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