Dona Cecília Maggessi Neira

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Um dia teria que escrever sobre ela. Não é todo mundo que conhecemos pelo nome todo. Li hoje uma crônica do Artur Xexéo sobre uma tia (na verdade, uma amiga de sua mãe) de que se lembrava, de sua infância. E lembrei dela mais uma vez. Quem é ela? Dona Cecília Maggessi Neira. Como consigo lembrar de seu nome completo depois de sessenta anos? Tem um bom motivo. Ela foi minha professora por todo o primário na Escola México, ali em Botafogo, entre a Voluntários e São Clemente. Era de praxe, nas aulas de português, que preenchêssemos o cabeçalho da folha de papel com pauta que receberia nossos garranchos com nosso nome e… o nome da professora. Por certo, o nome de Dona Cecília foi aquele, além do meu, que mais escrevi de próprio punho em toda a vida.

Dona Cecília merece ser lembrada. Fiz a pesquisa no Google. Só achei o despacho pelo seu afastamento em 1961, no meio de notas da Secretaria de Educação, no jornal Correio da Manhã. Eram tempos sem facebooks. As pessoas não existiam tão intensamente na mídia como hoje. Só restam minhas lembranças. Dona Cecília tinha uma característica muito valiosa na época. Enquanto foi minha professora, não tirou licenças por saúde ou gravidez. Isso era muito importante para dar continuidade nas aulas. Meu irmão, dois anos mais novo que eu, era um pequeno deus da fertilidade. Suas professoras ficavam pouco tempo na turma, a gravidez logo lhes afastava. Dona Cecília era séria. É como recupero sua imagem da memória sem apoio de selfies e posts. Eu gostava da professora. Passei tranquilo pelo período do vovô viu a uva e da tabuada. Eu gostava de fazer caligrafia. Talvez muitos nem saibam o que é isso. Forçando a comparação, é algo equivalente a curso de datilografia dos nossos dias.

Aqueles tempos gerenciados por Dona Cecília vão ficando cada vez mais ralos nas lembranças. A Escola Municipal México, uma escola pública, na rua da Matriz, funcionava com qualidade. As classes média baixa de Botafogo e da incipiente favela do morro Dona Marta, que crescia ali perto, conviviam em belo equilíbrio social. O recreio tinha o onipresente futebol rolando no pequeno pátio. A hora do lanche era o momento mais importante do dia. A merenda que mais me marcou foi o pão com goiabada, esperado com ansiedade. O ensino era de qualidade. Acreditem, eu tinha aula de música e canto.

O tempo continua em seu trabalho persistente de erodir o passado. Que meu artigo seja um esforço de resistência. Obrigado Dona Cecilia. Dessa vez, peço licença para escrever seu nome no final do meu exercício de português: Cecília Maggessi Neira.

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