
“Foi então que ele desapareceu. Exceto pela roupa que tinha no corpo e pelo dinheiro que levava na carteira, deixou tudo para trás…”
Foi o melhor livro que li em 2003. Continue lendo “O Livro das Ilusões [Paul Auster, 2002, Companhia das Letras]”
Desde 1998 que a gente escreve alguma coisa por aqui. Era um blog, mas não tinham inventado o nome ainda.

“Foi então que ele desapareceu. Exceto pela roupa que tinha no corpo e pelo dinheiro que levava na carteira, deixou tudo para trás…”
Foi o melhor livro que li em 2003. Continue lendo “O Livro das Ilusões [Paul Auster, 2002, Companhia das Letras]”
a capital européia onde se fala português

O Homem dos Dados é uma comédia escrita em tom autobiográfico, que conta a história de um psicanalista que inventa o jogo de rolar os dados para escolher como ele deve agir a cada momento ou que personalidade interpretar por determinado espaço de tempo. Continue lendo “O Homem dos Dados [Luke Rhinehart, 1994, Imago]”

show de interpretações em filme instigante
É algo de diferente nas telas. O impacto é semelhante ao soco no estômago que Kids (1995) provocou. Este Thirteen é um pouco mais família e não trata da Aids, mas a excursão no mundo juvenil é arrepiante. Filmes instigantes, com baixo orçamento, temas atuais, tratando de comportamentos de uma época, com interpretações magníficas são bom caminho para estreantes brilharem. A diretora Catherine Hardwicke usou bem a fórmula, fez seu primeiro trabalho para a gente não esquecer e já começou sendo premiada no festejado Festival de Sundance. É fato que ela contou com duas ajudas fundamentais: as atuações magníficas de Holly Hunter e da menina (ela nasceu em 1987!) Evan Rachel Wood. Esta última tem uma performance de quem está possuída pelo personagem. Magra e alta, com 1,70 metros de altura, olhos azuis bons de câmera, a moça ocupa a tela todo o tempo e cava seu futuro promissor no cinema. Vamos vê-la muito por aí. Uma estrelinha de primeira grandeza.
Aos Treze (Thirteen) mostra, em ritmo acelerado, a transformação de Tracy (Evan Rachel Wood), uma menina introvertida e (como dizer?) normal, de família pobre de Los Angeles, chefiada por uma ex-alcoólatra separada que tenta sobreviver como cabeleireira enquanto administra um caso com um ex-drogado. Enfim, um lar típico. O desajuste da família e a pressão do rito de passagem da idade, onde o desejo de ser alguém, ser reconhecida e fazer parte de um grupo levam Tracy ao envolvimento com a doida e gostosona da escola, Evie Zamora (Nikki Reed). Ela torna-se sua mentora no processo de largar os ursinhos e partir para a vida de pequenos furtos e acesso a drogas em geral. Curiosidade: a história real da atriz que interpreta Evie, Nikki Reed, foi que inspirou o roteiro do filme. Nikki deve ter tido uma infância dureza. A personagem Evie é o próprio demo, o guia perfeito para quem quer se afundar no mundo do vale-qualquer-coisa para se obter os prazeres máximos de nossos dias, quais sejam: consumo, fama e drogas. Notem que sexo não entra na lista e aparece para teen Tracy como tarefas a serem cumpridas dentro do ritual de iniciação na adolescência.
Se investigarmos mais a fundo, o roteiro do filme não traz nenhuma mensagem especial. Mostra as armadilhas das transformações dos adolescentes: drogas que todos os jovens experimentam e a maioria consegue ultrapassar e o piercing, que afinal todo moleque usa hoje em dia, aparece com conotações masoquistas. Tudo mostrado com a câmera na mão, que dá o tom convenientemente nervoso a narrativa, mas que deve ter sido escolhido por ser a solução mais barata e ajustada para um orçamento de filme independente. Fica o interessante das situações limites que conhecemos ou ouvimos falar e que tememos que aconteçam com nossos filhos. A heroína Tracy embarca fundo na viagem de ficar grande. Para carregar mais as tinturas do personagem, a menina é histérica e anoréxica ou é histérica porque é anoréxica, não importa, com tendências autoflagelantes inteiramente afinadas com estes tempos de piercings e tatuagens. Isto pode justificar a forma acelerada e pouco crítica com que Tracy abraça a vida de roubar, se drogar e participar de qualquer festinha para ganhar status de alguém fora da multidão. O filme peca nas tintas fortes do roteiro. A natural sensação de que nossos filhos podem se envolver nestas ameaças, como drogas e roubo, são artifício eficiente para garantir a atenção de um mercado adulto que sai perplexo e aterrorizado com o mundo de perversão que ronda seus filhinhos na rua. O filme mostra como a “a juventude está perdida”. Infelizmente, a juventude, por definição, sempre está perdida.
O melhor do filme é a combinação da atriz antiga, Hunter, e a nova, Wood, como gerações diferentes mostrando competência. O esforço da mãe, tentando manter contato com a filha apesar de todos os condicionantes de sua vida miserável, é realista. A mãe Mellanie (Holly Hunter) convence pelo exibição de mais um caso de fracasso de comunicação onde ninguém é totalmente culpado ou inocente. A cena final do filme é uma convergência de emoções. Uma bela visão da leoa que lambe as feridas de sua cria. De novo, Holly Hunter deixa sua marca.
A competição é a alma do negócio! Não é bem isso. A competição é que chegou ao negócio das almas. Criptográfico? Talvez, um pouco. Explicando: as religiões estão competindo acirradamente pelos clientes, digo, pelos fiéis. Mas, é a mesma coisa, não? Os intermediários de Deus lutam sua cruzada de marketing para obterem os fregueses aflitos que vão soltar a grana na fim do culto. As Igrejas Universais e suas correlatas genéricas saíram na frente vendendo milagres a curto prazo, desbancando a Igreja Católica, que também gosta de grana, mas vende o paraíso depois da morte. A Santa Madre Igreja funciona no mercado de longo prazo, faturando alto com as heranças deixadas para o Vaticano e seus franchises, perdão, paróquias. Mas, o mercado se estreita e as empresas têm que ser ousadas. A Igreja Católica têm um diretor de marketing que merecia passar por umas sessões de tortura da Santa Inquisição. Será que foi ele que recomendou ao CEO do Vaticano (me refiro ao Papa) que seria de bom tom dar uma coça nos homossexuais? Mas o fato é que a Igreja, recentemente, caiu de pau nos pobres gays (e nos ricos tmbém). Voltou a conversa de que veadagem é doença, é coisa do demônio, aquele discurso demente com 2000 anos de idade. Eu não sei não. Pode até ser que os carolas e os enrustidos (são mais ou menos a mesma coisa, né?) se excitem com a caça às bruxas e bruxos. Tá bem que os gays não são o melhor mercado para propalar a castidade, o coito interrompido e a trepada mensal regida pela tabelinha. A jogada pode ser: já que não posso catequizá-los, vamos perseguí-los. Os homossexuais podem estar sendo usados para tirar mais grana dos beatos. Esse dinheiro será, então, canalizado para pagar os processos abertos pelos pais dos meninos que foram abusados pelos padres pedófilos de Boston. Vai rolar muito milhão de dólar da Santa Sé para encobrir este “pequeno” deslize dos padres tarados da cidade. Por sinal, nesta cidade americana, está dura a competição entre os vendedores de prendas divinos. A The Old South Church de Boston criou o receptivo The Lesbians, Gays and Friends Fellowship que congrega a turma alternativa da cidade. Intervalo no discursos irado: “esta antiga Igreja, fundada em 1669, têm uma prática liberal e advoga os direitos dos gays desde de 1972”. Volta a ira: É bom ver que há um racha no discurso furibundo das Igrejas contra o homossexuais. Apesar do quê, registre-se, é uma tradição da Igreja Católica se amarrar às causas furadas. Ela é contra a camisinha, contra o aborto, contra o planejamento familiar. Há coerência nos erros. Tem gente que vê virtude nessa coerência. Eu vejo apenas babaquice.