Sinais [Signs] de M. Night Shyamalan

O novo filme de Shyamalan chegou na esteira da expectativa despertada por seus dois últimos trabalhos: Sexto Sentido e Corpo Fechado. O diretor indiano brilhou em Sexto Sentido criando uma referência cinematográfica no que se refere ao “ponto de vista” de se contar uma história. Em Corpo Fechado, sua exploração da fantasia das histórias em quadrinhos ficou muito soturna e o resultado deixou o diretor no purgatório, críticos e público esperando sua próxima produção para desempatar sua avaliação. Afinal, temos um novo gênio no cinema ou foi apenas uma falsa promessa? Continue lendo “Sinais [Signs] de M. Night Shyamalan”

Bin Ladens e Fernandinhos Beira-Mar

Senhores: Peço desculpas aos melodramáticos, mas a tragédia americana de 11 de setembro não me sensibiliza tanto assim. As imagens belíssimas – há beleza dentro da estética da destruição – que a mídia americana usa para mobilizar o povo americano, depois do excesso de repetições, já me causam tédio. Sabemos que o objetivo maior desses rituais de sofrimento é por a opinião pública americana mais favorável a uma tão anunciada invasão do Iraque. Também devemos lembrar que este ano tem eleição nos EUA e os republicanos liderados (?) por Bush não podem perder a oportunidade de emocionar o público e buscar votos.

E o que eu tenho a ver com isso? Não faço parte da corte. Não tenho green card. Não vivo nos palácios de Washington. Por que os problemas dos americanos têm que sobrar pra mim? Tenho que sofrê-los em tempo real, ao vivo e em cores? O ataque terrorista do ano passado faz parte dos custos de ser o centro do poder mundial. Boa parte do que a humanidade está vivendo hoje, seja para o bem ou para o mal, é definida pelos EUA. Sua economia determina o que devemos consumir. Quando sua economia freia, nossos vagões se esborracham e países quebram. Quando eles disparam na fartura, costuma sobrar algumas migalhas para os vizinhos. Em tempo: somos um desses vizinhos necessitados. Poderosos e arrogantes, os EUA não olham pro lado na hora de decidir seu caminho. Eventualmente, passam por cima de países menos avisados, às voltas com problemas menores, tais como, economia fraca, corrupção, traficantes de drogas como um poder paralelo, astronômicas dívidas interna e externa e outras mazelas dos menos dotados. São protecionistas quando lhes interessa e pregam o livre mercado se lhes é oportuno. Se vale a pena para as empresas que elegeram Bush aumentar poluição para ter mais lucros, danem-se os protocolos de Kioto ou seja lá qual for a iniciativa de preservação do meio ambiente, os EUA vão poluir com desenvoltura. Como guardiães da humanidade, os EUA ditam o modelo de governo e economia que o mundo deve seguir. O FMI, por exemplo, serve para zelar pela imposição do receituário econômico aos menos favorecidos. Se o remédio der errado, problema do paciente. Com relação aos governos, os EUA aplicam suas regras com flexibilidade, conforme seus interesses. Por exemplo: à Cuba, toda cobrança de democracia; à ditadura da Arábia Saudita, nadando no precioso petróleo, toda compreensão pelo regime absolutista da família real. Um belo exemplo de dois pesos, duas medidas.

O fato é que os EUA sofreram gigantesco revés em 11 de setembro de 2001. Depois, em retaliação, destruíram um país: o Afeganistão. Porém, até hoje, não conseguiram encontrar os extremamente competentes mentores do atentado. Os terroristas foram completamente bem sucedidos. Colocaram os EUA em pânico, paralisaram o país, mudaram o mundo, chacoalharam a economia mundial, transformaram viajar de avião em um sofrimento e acabaram com a falsa sensação de segurança em que vivíamos. Apesar de todo o poder e tecnologia, os americanos não conseguiram prender nem mesmo quem enviou as cartas com antraz que mataram cinco pessoas.

Fico assistindo enfadado o ritual do topo do mundo chorando seus mortos. Toda a pompa não me contagia. Tenho pena dos infelizes que morreram, mas eles morreram muito longe de mim e de meus problemas tão próximos. Eles não conheceram balas perdidas ou guerra do tráfico. Estou de saco cheio de ver os poderosos se lamuriando. Meu problema está aqui e foram criados pela incompetência dos meus poderosos. Não precioso chorar pelos poderosos de além mar. O desequilíbrio social no Brasil está no limite. Talvez o 11 de setembro de 2002 seja realmente relevante para o Brasil, mas em virtude da rebelião que explodiu no presídio Bangu I. Ali, o crime se organiza e ocupa descaradamente o vazio de poder deixado pelos governos medíocres que se sucedem. Pode ser que nossa versão de 11 de setembro esteja por chegar. Qualquer dia um morro desce e cria uma tragédia no asfalto. Já desceu, mas ainda não chegou à Zona Sul. A tragédia de Tim Lopes foi pouco para mobilizar o país. Esperamos que nosso Bin Laden, cujo nome é Fernandinho Beira-Mar ou Elias Maluco, não seja tão eficiente como os terroristas árabes.

– “As exigências justas de paz e segurança serão cumpridas, ou uma ação será inevitável. Não podemos ficar de braços cruzados sem fazer nada enquanto os perigos se acumulam.” Quem fez esta afirmação, infelizmente, não foi um governante brasileiro preocupado com o problema do poder paralelo do tráfico, foi o presidente Bush se referindo ao Iraque.

Perdas

Em dado momento da história, Lewis, instigado a rememorar uma grande perda, relata sua experiência, aos 9 anos, quando do falecimento de sua mãe. O escritor acrescenta o detalhe banal de que nessa época ele tinha dor de dente e queria o colo da mãe, mas ela não estava mais lá.

Recentemente, esbarrei, na tevê por cabo, com o filme Terra de Sombras (Shadowlands, 1993), obra de especial sensibilidade, com diálogos memoráveis e elenco de raro equilíbrio, liderado por Anthony Hopkins interpretando o escritor C.S. Lewis em seu belo romance com a também escritora Joy Davidman. Hopkins estava afiado. Recém saído de outra grande interpretação em Vestígios do Tempo, filme do mesmo ano, o ator inglês exibe maestria na interpretação de sutis emoções. Um filme grandioso, bem no estilo do diretor Richard Attenborough, abordando temas profundos tais como: felicidade, relacionamento, amor, deus, morte e a perda de um ente querido. É filme para ver e rever.

Em dado momento da história, Lewis, instigado a rememorar uma grande perda, relata sua experiência, aos 9 anos, quando do falecimento de sua mãe. O escritor acrescenta o detalhe banal de que nessa época ele tinha dor de dente e queria o colo da mãe, mas ela não estava mais lá. Continue lendo “Perdas”

O Prefeito Sujo

Deve ser um sujeito empreendedor. Bom de papo. Talvez, até, bom pai de família. Será que a esposa sabe de onde vem a grana? Deve saber, mas não se preocupa. Contanto que a boa vida aconteça, os meios se justificam. O dinheiro deve entrar pelo caixa dois. Pode ser por unidade instalada. Cada outdoor que é erguido lhe garante uma renda mensal. Vejam que não é pouco. Juntem-se todos os painéis de propaganda da cidade do Rio de Janeiro e imaginem a grana preta de que estamos falando. Deve dar para manter um carro importado ou a casa na serra. Assim eu imagino o intermediador que trata de arrumar mais e mais lugares para colocar outdoors no Rio de Janeiro. O sacana se dá bem. A nós, os moradores do Rio, resta conviver com a zorra da sujeira visual espalhada por muros, laterais de prédios, qualquer lugar onde caiba um outdoor. Não sei se causa incômodo em você. Eu, de minha parte, fico puto com essa bagunça. A quem culpar por essa esculhambação? Eu sugiro o prefeito.

Em tempos de campanhas eleitorais passadas, César Maia disse que iria limpar o Rio de Janeiro da porcariada de propagandas que enfeiam a cidade. Isso, claro, foi antes de se eleger. Depois de assumir, esqueceu o assunto. A cidade está encoberta pela propaganda feia e invasiva. É poste, sinal luminoso e os enormes outdoors. O que tem de casa escondida por muros de outdoors! Tem até pontos turístico cobertos pela sujeirada de propaganda. “O ambiente visualmente poluído acaba por causar nas pessoas incômodo e faz com que percamos a capacidade de perceber coisas boas. O espaço público adquiriu outro sentido e muitas vezes falta o bom gosto no que vemos”, diz a arquiteta Heliana Comin Vargas, professora livre-docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (www.drvisao.com.br). Concordo.

Por que o prefeito não se preocupa com o problema? Eu acho que o fator grana é onde a coisa pega. O esperto prefeito tem seus interesses nas eleições. Daí que é bem oportuno fazer vista grossa para a porcaria que estão fazendo nas ruas da cidade. O negócio de lotear o espaço visual da cidade deve render bom dinheiro. A mutreta é antiga. Já escrevemos aqui na época do Conde (aquele prefeito ridículo que dava um bom Rei Momo), mas as sacanagens no Brasil não diminuem, pelo contrário, tendem a crescer e ficar mais e mais profissionais até atingir o limite de tolerância da população. Os outdoors são assim. Por mais que se mostre a sujeira espalhada no cidade, nada será feito. O melhor que pode acontecer é o prefeito esperar terminar a eleição, para, com estardalhaço, tirar alguns painéis que ele mesmo liberou para serem colocados.

César Maia é um perito na arte de ludibriar a atenção da população. Seu estilo está bem definido. Depois que ganha uma eleição, desaparece. Fica procurando alguma oportunidade política na outra eleição que acontece no meio de seu mandato. Se não pinta nenhuma boca, ele prepara um plano que faça bastante tumulto na cidade, um Rio Cidade por exemplo. Esburaca tudo, gasta uma grana com os empreiteiros e faz cara de bobo no sambódromo para enganar o verdadeiro bobo: o eleitor. Aí, ocupa todo espaço que tiver na mídia e tenta se eleger de novo. Um artista. De bobo não tem nada.

Desculpem-me por lhes lembrar mais este atraso social que nos cerca: a proliferação dos outdoors. Para alguns pode parecer sem importância. Mas, nas pequenas coisas aparece o conceito de cidadania. O curioso é que pouco temos a fazer. Alguém sabe a quem recorrer?

Oscar de Melhor ator

será que ele ganha?

O cinemão americano se habituou a produzir filmes destinados a concorrer ao Oscar de Melhor Ator (ou Atriz). A fórmula é bem conhecida. Seleciona-se um ator com alguma fama estabelecida e escolhem-se personagem e roteiro que o façam aparecer bastante no filme, de preferência, com certa proximidade da câmera, para que possamos apreciar as caras e bocas que faz. À fórmula padrão, acrescentou-se a notória patologia americana pelo bizarro. Hollywood gosta de personagens deficientes físicos ou mentais para concorrerem à categoria de Melhor Ator. Acham que estou exagerando? Vejam só o retrospecto recente dos prêmios: Continue lendo “Oscar de Melhor ator”