É oportuno discutir o aborto


Percival Puggina coloca bons argumentos contra a simplificação do debate sobre o aborto

Percival Puggina já foi colaborador de Polemikos. Não é mais. Não precisa. Ele tem seu canal de divulgação através de seu site. Puggina escreveu
bom artigo sobre o aborto (ver
artigo
)
. Ele expõe a falta de argumentos razoáveis para a liberação do aborto. Foi bastante feliz em sua argumentação. Puggina aponta que aqueles que são favoráveis ao aborto apenas alinham motivos para cometer o crime. Os motivos ou atenuantes podem ser nobres, mas não retiram a característica criminosa do ato. Por outro lado, recentemente, aqui em Polemikos, Tirésias da Silva defendeu a legalização do aborto (ver artigo). A discussão é necessária.

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Somos pela Liberação do Aborto

Feriado da Páscoa. A Igreja, através de seus sacerdotes, aproveita a visibilidade para atacar o movimento pela discussão da legalização do aborto. Notem bem: a Igreja, tradicionalmente contrária ao aborto, não quer discutir o problema, procura atuar para impedir que o assunto seja tratado pelo povo através da maneira mais democrática: um plebiscito sobre a legalização do aborto. Portugal, recentemente, teve seu plebiscito e o aborto foi legalizado.

Mas parece que as coisas não serão tão fáceis para os religiosos. O novo governador do Rio, Sergio Cabral, deu a deixa. Ele se declarou a favor do planejamento familiar. Mais precisamente, ele considera que a discussão sobre o aborto deve acontecer. O Ministro da Saúde José Temporão também defende a realização de plebiscito sobre a legalização do aborto. Para ele esse é um assunto de “saúde pública”. O tema “legalizar o aborto” aparece com força nas agendas políticas e na imprensa. Zuenir Ventura usou seu espaço na página de opinião para comentar sobre as meninas-mães. Trata-se do enorme índice de mulheres, ainda crianças, que ficam grávidas em nosso país. Ancelmo Gois também tratou do assunto na edição de domingo do jornal. Miriam Leitão, faz algum tempo, declinou a estatística crua que mostra o perigoso caminho que nosso país está seguindo. É mais ou menos assim: as mulheres brasileiras mais miseráveis têm muito mais filhos que aquelas que têm condições de criar bem seus filhos. Uma mãe na faixa de renda abaixo de um salário mínimo tem em média mais de cinco filhos. A taxa para as mulheres com renda superior a 10 salários mínimos é de apenas 0,6 filhos por mulher! Assim, como bem registra Zuenir Ventura, o país está crescendo através de crianças geradas sem uma perspectiva de vida minimamente descente. Esses filhos e filhas, na maioria das vezes, vão compor um lar onde o pai foge de sua responsabilidade, deixando a mãe jovem para cuidar da criança. Essas famílias (ou semi-famílias) são o celeiro de crianças violentas, sem estrutura para freqüentar escolas, destinados desde sempre à marginalidade. E depois ficamos reclamando da violência das cidades? Todos conhecem a mais comentada das sacações do livro Freaknomics, que defende que a causa da diminuição da violência em Nova York não foi a política de repressão mais rígida. O motivo real foi a aprovação da legalização do aborto em 1973, que impediu a geração das crianças indesejadas, aquelas mais prováveis de se tornarem os marginais.

Então, este é o assunto do dia. A Igreja já disparou seu discurso contra o aborto ou qualquer prática de planejamento familiar. Sua orientação passa pela solução mais óbvia e pouco eficaz de ser implementada, que é o puro e simples celibato. Sexo, fica para procriação. Sem dúvida, uma proposta atual e alinhada com os anseios e realidades dos cidadãos e cidadãs. De nossa parte, ficamos com a posição radical. O aborto deve ser aprovado no país! Que seja legalizado o direito da mulher sobre seu corpo. Que não tornemos marginais as mulheres que realizam abortos a cada ano. Fiquem surpresos: o número de abortos supera o número de partos. O trabalho não é pequeno. Além do aborto, um grande projeto de educação é a solução maior para esclarecer os jovens do impacto em suas vidas se gerarem filhos indesejados ou não planejados. Entretanto, que se tome vergonha: comecemos, legalizemos o aborto em nosso país.

O Golpe das Carteiras de Estudante

e a população é treinada para tirar vantagem em tudo

O assunto vem sendo discutido há bastante tempo. Há uma quase unanimidade sobre a necessidade de alteração da lei, entretanto pouco se avança em ações efetivas. O fato é que a instituição “carteira de estudante” está falida. É uma grande farsa seu uso para obter a “meia-entrada” em shows e outros eventos. É um engodo generalizado em que alguns têm lucros (os emissores de carteirinhas) e a população em geral perde, ludibriada pela falsa impressão de pagar menos nos espetáculos.

O assunto carteira de estudante serve para exemplificar como é difícil se decidir alguma coisa no Brasil. Desde 2001, quando a emissão de carteiras deixou de ser exclusiva da UNE, o negócio tornou-se lucrativo e a solução que já sofria críticas, se degenerou por completo. A Jovem Pan faturou cerca de 4 milhões de reais emitindo 130 mil carteirinhas. Até a Skol emite carteiras para os bebedores da cerveja. A proliferação do documento gerou uma reação óbvia e previsível: os preços de cinemas, shows e casas de diversão foram majorados. Funciona assim: todo mundo arranja uma carteira, fica achando que é esperto e que paga mais barato, mas o preço é aumentado para compensar a meia-entrada, e todos pagam é caro mesmo. Existe um porém: aquele que não se dispõe a obter uma carteira fica sendo o otário que vai pagar sempre mais caro por entradas de cinema ou outros shows.

Além dos desvios de preços provocados pela disseminação de carteiras de estudante, há uma perda maior para nossa já combalida sociedade. As pessoas são estimuladas a falsificar ou obter carteiras para obter descontos. É a propaganda subliminar de que “vale tudo” e que uma pequena ilegalidade pode ser praticada sem culpa. Este treinamento para a falsidade ideológica, para as práticas ilegais, é um dano de largo alcance que vem junto com o uso de carteiras por não estudantes. Cada vez é mais comum encontrarmos pessoas abastadas se reduzindo a mediocridade de fazer uma carteira de estudante para pagar meia nos cinemas.

A rigor, a carteira de estudante dar desconto é inconstitucional. Por que o trabalhador deve ser tratado diferentemente do estudante? O trabalhador jovem também deveria ser estimulado a consumir cultura com preços reduzidos. O estudante de escola pública e privada deve ser tratado da mesma maneira? Anestesiados pelos falsos ganhos, ninguém quer discutir o assunto. Há solução simples para o problema. Não podemos dizer que somos originais em propô-la. O deputado estadual Wanderlê Correia, de Sergipe, propôs o pagamento da meia-entrada para jovens de até 21 anos de idade, que nos debates da câmara do estado foi estendida para a idade de 24 anos, em virtude de ser esta a idade do primeiro emprego para os estudantes. Por que não adotar solução tão simples? O desconto definido pela idade é muito mais democrático. Os jovens seriam favorecidos e motivados para os programas culturais com preços inferiores. Deixaríamos de favorecer aquele que tem recursos para investir na educação enquanto deixamos os que têm que trabalhar para viver pagarem o preço cheio. Seria de fácil controle, já que todos têm o documento de identidade. Descontos para detentores de carteiras de estudante ou quaisquer outras ficariam a critério do comércio.

Na “Zona Brasil” a que chegamos, carteiras de estudante podem parecer assunto sem importância, mas elas são um sintoma a mais. Mais um sintoma entre tantos!

Vamos discutir, droga!

Aproveito a deixa. O tema da descriminalização das drogas voltou à agenda de discussão. Arnaldo Bloch, em sua coluna semanal de O Globo, comentou o assunto há cerca de duas semanas. Chico Buarque, na entrevista sobre seu novo disco, também abordou a necessidade de retomar a discussão sobre o problema das drogas no Brasil. O deputado Gabeira costuma abordar o assunto. É auspicioso que eles tragam o tema para o debate. Infelizmente, em geral, o assunto drogas é tratado entre a hipocrisia e histeria. Continue lendo “Vamos discutir, droga!”

Quem escondeu os juros?

Há uma coluna da Veja que é meio chata. Quem escreve é Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central. Ele fala de assuntos enfadonhos da Economia, que não devem atrair muitos leitores da frugal revista semanal brasileira. Entretanto, em artigo recente, intitulado “Onde estão os juros?”, Gustavo tratou de um tema tabu, que em geral é menosprezado ou premeditadamente retirado das pautas. Trata-se dos crediários compulsórios que os brasileiros são obrigados a usar em suas compras. Continue lendo “Quem escondeu os juros?”

Por que respeitar as Igrejas?

O filme A Paixão de Cristo, de Mel Gibson, é o assunto do momento. O filme é extremamente violento e gasta toneladas de ketchup para mostrar, com muito sangue, o tormento de Jesus. Também cria polêmica e foi tachado de anti-semita ao mostrar os judeus como responsáveis ou, com participação ativa, no papel de mandar Jesus para a cruz. De um modo ou de outro, Gibson consegue ser falado. A besteira do sangue tira minha motivação para perder tempo vendo sofrimento por duas horas. A exposição de judeus – maculando sua imagem de eternos sofredores e perseguidos, por sinal, muito bem administrada pela indústria cinematográfica, cujo controle está com o capital judeu – gerou logo reação. É normal. Mas minha intenção não é falar da obra do cristão ortodoxo Mel Gibson. Só de falar em ortodoxo fico todo arrepiado e o estômago embrulha.

Pra ser sincero, estou pouco me lixando para os aspectos religiosos do filme. É apenas mais um negócio, um investimento, e quanto mais polêmica a obra criar, mais retorno financeiro vai produzir. A rigor, o assunto todo não me interessa. Indo mais fundo ao ponto: Religião não me interessa e tenho verdadeira repulsa a este ramo de negócio onde atuam um sem número de empresas vulgarmente chamadas “Igrejas” que, descaradamente, vendem aos incautos a intermediação com o divino. Um cretino poderia dizer que as Igrejas têm atividade social importante buscando manter quietos os pobres de espírito e de bolso. Mas pra que serve dar atenção e dinheiro a estas empresas, entre as quais as modernas caça-níqueis chamadas Igrejas Evangélicas? Elas estão falhando na atividade mais importante que lhes cabe: manter os miseráveis quietos e permitir que a classes média e alta usufruam de sua confortável qualidade de vida sem serem importunadas pelos “menos afortunados”, que quer dizer “os de menor fortuna”, ou seja, “os pobres”. A carência humana, que não consegue entender sua existência sem apelar para inventar deuses, é explorada por estes estelionatários das Igrejas que vendem sua intimidade com Deus com a mesma competência que seus colegas menos espertos vendem para os otários terrenos no meio da Lagoa Rodrigo de Freitas. Ainda chegará o dia em que o Procon vai cair em cima dessas empresas.

O golpe de “vender Deus” vem de longa data e as Igrejas estão bem estruturadas. No quesito sobrevivência empresarial, por exemplo, elas mostram rara competência. Percebendo que a melhoria das condições da sociedade diminui seu mercado, se esforçam para ampliar sua base de consumidores, agindo com eficiência para instalar o caos, e aumentar o número de ignorantes. Vejam o que acontece com o controle de natalidade no Brasil. O país precisa reduzir seu crescimento demográfico de modo a compatibilizar sua população com o crescimento da riqueza que conseguimos gerar. Menos filhos proporcionariam mais oportunidades de trabalho e educação para eles. Mas, o que acontece? Os rebanhos de carolas e crentes em geral, fertilizados pela oposição que toda Igreja faz ao planejamento familiar, geram um filho depois do outro. As meninas, parindo a partir dos 13 anos, são proibidas pelas Igrejas de fazer abortos. A camisinha é criticada pela Igreja Católica. Resultado: o Brasil vê crescer um exército de sem comida, sem casa, sem trabalho, prontos para serem manipulados pelas Igrejas. Como o mundo está cheio de espertos, os políticos, diretamente representando as organizações religiosas ou apenas pegando o barco da manipulação dos miseráveis, se juntam ao esquema e passam a defender os interesses das Igrejas, impedindo leis mais razoáveis e praticando o paternalismo político, com destaque para restaurantes de R$1,00.

Vou sair de minha quieta indignação e propor ao Tirésias da Silva, se ele sair candidato na próxima eleição, que defenda a colocação das Igrejas na ilegalidade. Vamos aproveitar o fechamento dos bingos e fechar este monte de templos legalizados que dão prejuízo social ao país. Meu amigo, quer rezar? Fique à vontade, mas vai rezar na informalidade de sua casa. Fica com Deus!