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sofisticação e esnobismo no litoral do Rio
chegar – dormir – passear – comer&beber – comprar
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Búzios é daqueles lugares especiais do planeta. Por coincidência, fica aqui no Brasil. Uma estraordinária península com pontas e reentrâncias formam inestimável coleção de belezas naturais. São muitas praias, enseadas e rochas desenhadas com esmero pela natureza, que adentram o mar criando paisagens espetaculares.
O asfalto demorou a chegar ao balneário. A história conta que os cultores do local não queriam que os pobres invadissem o charmoso arraial com seu mal gosto, seus ônibus de excursão, galinha a milanesa e guerra de areia. Por isso, a estrada para Búzios demorou a ser alfaltada. Hoje, a frota de Audis (a maior que já vi em uma cidade pequena), que vai para Búzios no fim de semana, tem uma estrada privatizada: a Via Lagos. A estrada é uma porcaria, com quatro pistas de rolamento, duas em cada sentido, estreitas o suficiente para nos deixar inseguros todo o tempo da viagem. Provavelmente os donos estão riquíssimos, com mansões em Búzios, às custas de manter uma estrada com a largura mínima possível para um carro passar.
Se você for como os donos da Via Lagos e tiver bala na agulha, pode ir de helicóptero ou de avião. Há muitos heliportos à disposição. Peça o helicóptero do amigo emprestado e desfrute da vista durante a viagem. Eu recomendo. Como vantagem extra, você não corre risco de engarrafar e ser assaltado na Niterói-Manilha.
A rede de hotéis de Búzios é fornida e tem exemplos de alto luxo, em particular junto à praia dos Ossos. Gosto de alugar casa em Búzios. Dá pra levar todo mundo e dá maior privacidade. Uma boa opção é alugar uma casa no Condomínio da Ferradurinha, entre as praias de Geribá e a pequena Ferradurinha. É maravilha. Fica à escolha do freguês usar as águas quietas da Ferradurinha ou o quilômetro de praia, com direito as ondas para surf, de Geribá.
Apesar do charme de dizer que Búzios foi refúgio de piratas e escravos, aquela região toda começou como uma grande plantação de bananas. Os mais espertos já desfrutam das maravilhas turísticas de Búzios desde antes dos anos 50 do século passado (pois é, já podemos falar assim do século XX). Mas, o que antes foi o refúgio de aristocratas, visionários ou simplesmente boas vidas, foi absorvido pelas engrenagens do sistema e vive hoje da fantasia melancólica dos tempos de ouro em que famosos do quilate de Brigitte Bardot e Mick Jagger bundeavam por aqui. O que restou? Restaram as praias tomadas pelos invasores de terra em todos os níveis. Sem a menor regra, ou seja, valendo a regra número 1 do Brasil: “Vale tudo!”, construiu-se na bagunça. Vale lembrar que, pelo menos, não se construiu ainda um prédio em Búzios. Menos mal.
Como o mar é o valor máximo do balneário, onde está a beleza do lugar, é a partir deste que se constrói a distribuição social. A beira da praia é o início do gramado da casa do bacana. Ali ficam as casas suntuosas, onde a madeira e a telha redonda – marca registrada de Búzios – são usadas para criar o luxo pretensamente humilde dos zilionários brasileiros e de outras partes do mundo. Conforme se avança para longe do mar, aparecem os elementos comuns do Brasil: pobreza, miséria e desleixo administrativo. A esculhambação da infra-estrutura de esgotos produz odores estranhos em alguns locais da cidade. Mais uma coisa para o turista exclamar: très exotique! Um exemplo é a bonita praia da Ferradurinha. Ali, um conjunto de casas luxuosas se aglomeram e avançam sobre a pequena faixa de areia até quase fechar o acesso ao litoral, acesso este que, a propósito, é direito constante da Constituição Brasileira. Para resolver o problema, surge o providencial jeitinho brasileiro. Pelo canto da praia, limitado pelo morro e um muro, um caminho de terra, que os passantes usam para despejar restos ou resolver alguma necessidade fisiológica mais apressada, permite ao povo o acesso à praia. Seguindo pela trilha, o luxo do outro lado do muro dá lugar a casebres e aos onipresentes miseráveis que atuam na florescente atividade de tomar conta dos carros dos visitantes. Mas saibam que este acesso quase inviável à Ferradurinha já é uma vitória. Há uma praia em Búzios, Caravelas (ao sul de Tucuns), cuja restrição para um cidadão desprovido de milhões chegar é mais acintosa. Diz o Guia Quatro Rodas Praias: “Os visitantes têm que se identificar na portaria de um condomínio.” Eu não fui visitá-la. Me abstive de passar pelo constrangimento.
Além das belezas da geografia, Búzios tem, como toda cidade pequena, sua pracinha. É o lugar onde o povo da cidade se encontra para passear, exibir o vestido novo, os jovens trocarem olhares depois da missa. Bem, em Búzios as coisas são ligeiramente diferentes. A começar que uma praça, em geral, é circular, tem um circuito fechado que permite a gente bater perna e, naturalmente, chegar ao lugar de partida. Búzios tem uma rua: a Rua das Pedras, onde se executa o footing no estilo vai-e-volta. Os propósitos são os mesmos de cidadezinha interiorana: “Ver e ser visto.” Temos de reconhecer que os corpos dos jovens de Búzios são em média, provavelmente, os mais malhados do país. Os abdomens lipoaspirados, narizes endireitados, rostos botoxicados dos idosos também proliferam na Rua das Pedras. O horário do passeio também é diferente. A rotina comum na cidade é ficar na praia enquanto houver sol. Depois, um descanso, uma sesta, que ninguém é de ferro. Lá para onze horas, meia noite, a programação noturna se inicia e pode se arrastar até o amanhecer. Há que ter saúde.
Não faltam lugares finos para se ir em Búzios. Afinal, sofisticação é o que o pessoal busca, pra juntar com o esnobismo e compor a atitude buziana. Em minha última passagem pelo povoado, visitei o Sawasdee Restaurante, na Orla Bardot (Avenida José Bento Ribeiro Dantas 422, Orla Bardot tel. (22) 2623-4644, (22) 9212-4066). Especializado em comida tailandesa, o lugar proporciona boa experiência para o paladar. Iniciamos com o Mix, onde se combinam rolinhos primavera e bolinhos de salmão à milanesa. A diversidade de gostos estimula o paladar. Um macarrão no estilo oriental, com camarão e lula, o Pad Thai, é gratificante depois de um dia na praia. O arroz de frutos do mar também brilha nas papilas gustativas. Pode-se comer com os pauzinhos ou com garfo. A faca é desnecessária, por não haver o que cortar. Marcos Sodré, proprietário e criador dos pratos, usa amendoim e gergelim, produzindo belos exemplos de sabores exóticos. Do tempero, apenas o preço é um pouco salgado, mas… nada que um bom freqüentador de Búzios não possa arcar.
A Rua das Pedras também pode ser encarada como o maior shopping a céu aberto do Brasil. Ao longo de toda sua extensão, lojas famosas do Brasil se espremem para dar visibilidade a suas marcas. Estar em Búzios é sinal de que se é atual, in, símbolo de moda… O comércio, por não caber na rua original, transbordou para sua continuação, a chamada Orla Bardot. Aos poucos, ou não tão aos poucos assim, lojas e restaurantes se alinham de frente para o mar. Este verão assisti ao lançamento do novo conceito de loja – o multimarca – um galpão onde os ricos podem fazer uma tour por estandes de lojas famosas, eventualmente, com música ao vivo rolando, separados da rua por um grande vidro, que garante ao cliente o direito de ver o mar e ver os pobres (e ser visto por eles, que é fundamental) que só conseguiram status suficiente para andar na calçada da orla. Um prazer inigualável.
Resumindo: tirando as pequenas críticas acima, Búzios é um lugar imperdível para se visitar.
– Gustavo Gluto –
Caro Gustavo vc conseguiu captar Buzios……amo Buzios, mas ela é isso mesmo que vc descreveu acima! parabens!!