Deus, Um Delírio. [Richard Dawkins, 2002, Companhia das Letras]

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O famoso biólogo Richard Dawkins acerta no alvo neste livro em que combate superstições em geral e religiões em particular. O assunto crenças e religião é sempre colocado de lado por motivos tais como “respeitar a opinião do outro” ou que “Deus é tão sagrado que não pode ser discutido”. Dawkins faz uma análise científica de nossa vocação humana para abraçar essas estranhas idéias: as religiões. É como diz a conhecida citação: “se alguém ouve vozes é maluco, se vários ouvem vozes, é religião”. Dawkins não se acomoda na posição passiva de ateu. Ele nos traz a justificação de sua posição e, ao mesmo tempo, derruba os frágeis pilares que sustentam mitos dos deuses. Ele explica porque é mais razoável ser ateu! Seu livro pode ser considerado como seguir o conselho que Thomas Jefferson, Presidente dos EUA, fez em carta a seu sobrinho:

“Joga fora todos os medos de preconceitos servis, sob os quais as mentes dos fracos se curvam. Coloca a razão firmemente no trono dela, e apela ao tribunal dela para todos os fatos, todas as opiniões. Questiona com coragem até a existência de Deus; porque, se houver um, ele deve aprovar mais o respeito à razão que o medo cego.”

Eu tive sorte. O Segredo da Santíssima Trindade me salvou. Eu devia ter meus oito anos, fazia o catecismo para enfrentar o difícil ritual da Primeira Comunhão. Digo difícil porque a angústia de não ter sucesso em engolir a hóstia, que teimava em colar na minha língua, me tirou a tranqüilidade daqueles dias. Eu fazia as aulas de catecismo na Igreja da Matriz, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro. Uma jovem carola nos levava para uma salinha onde repetia as definições básicas que eu precisava saber para poder receber Jesus Cristo em Comunhão. Lá para as tantas, ela descreveu o fenômeno da Santíssima Trindade. Eram três que eram um único. Ela dizia que havia o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Depois dizia que eram uma coisa só. Um caso de lógica nebulosa, com violações da física newtoniana, havia criaturas ou entidades ocupando o mesmo lugar no espaço, aquela história estava mal contada. Ela não tinha como explicar. Nem tentou. Era assim e pronto. O olhar dos outros meninos e meninas da turma do catecismo variavam entre a perplexidade e total indiferença. Depois da aula, rolava um futebol no pátio atrás da Igreja que era o foco do pensamento da turma, pelo menos, dos meninos. Tinha muita coisa misteriosa na história da Igreja Católica. Era muito milagre para poucos fatos. Eu não embarquei. Passei pela prova da hóstia. Para minha sorte, meus pais eram pouco religiosos, não sofri muita pressão. Poucas semanas depois da cerimônia abandonei aquela bobagem e não perdi mais tempo com isso.

Muitos de vocês devem estar indignados com minha ousadia de chamar religião de “bobagem”. Na verdade, eu é que acho arrogante que os religiosos tenham o mau hábito de acreditarem nos mitos mais escabrosos e querer apitar na vida dos outros. Quando encontram alguém incauto, pronto para receber suas idéias de religião, abusam do coitado, em particular das crianças, incutindo toda sorte de superstições. Quando alguém lhes faz uma ou duas perguntas do tipo “de onde você tirou estas idéias malucas”. O possuidor de fé se recolhe na estratégia de pedir respeito a suas crenças. Esse modelo de propagação é robusto para manter todo tipo de crença. Assim acontece por milênios.

O livro de Dawkins é um primor de racionalidade. Os religiosos radicais não conseguirão lê-lo. Já estão anestesiados e adestrados para professar as superstições que os adultos, com participação importante de seus pais, lhe encravaram na cabeça. O livro é indicado para aqueles que têm a “sagrada dúvida”, ou seja, os que ainda podem ser salvos. Aqueles que sofreram purgando suas culpas, pensando que mentir para os pais ou se masturbar poderia lhes conduzir ao sofrimento eterno no fogo dos infernos, esses poderão tirar proveito do magnífico trabalho de Richard Dawkins. Sem preconceitos, usando ferramentas da teoria da evolução, Dawkins nos mostra a fraqueza e as mazelas que religiões podem causar. Ele mostra as distorções que o pensamento religioso traz a nossa maneira de pensar, à ética, e mesmo ao conceito de amar o próximo. Hoje, no ocidente, por exemplo, é senso comum que a religião muçulmana pode gerar muita maldade no mundo. Porque esquecemos a religião Católica? Quando a Igreja condena o uso da camisinha e dificulta o combate a AIDS ou atormenta a vida de homossexuais, ela deve ser enaltecida? Dawkins é feliz em apontar que as religiões são sempre fanáticas. Se não há base para o que está sendo tratado, o radicalismo é a solução para que a religião se mantenha. A história está cheia de casos, vidi a Inquisição ou o Talibã.

Dawkins argumenta que religião não é apenas uma decisão íntima de cada um e que, portanto, não faz mal aos outros. A história das tragédias que as religiões provocaram é imensa. Segundo ele, religiões não são úteis nem necessárias, são prejudiciais. Eu concordo. Vocês devem estar pensando que me refiro ao 11 de Setembro. Sejam mais abertos. Fiquem só na Igreja Católica cuja lista de sofrimento causado já é extensa.

Destaco a elegante comparação feita por Dawkins entre a religião, no caso dos humanos, e o sistema de navegação baseado nas luzes das estrelas, das mariposas. Este sistema sofisticado de navegação noturna dos insetos foi eficiente por milhões de anos. De repente, surgiram na Terra os homens e suas fogueiras e, depois, as lâmpadas de óleo ou elétricas. Os raios desses focos de luz não eram mais paralelos, como aqueles produzidos pelas estrelas, agora eles eram convergentes. Os olhos das mariposas e seu cérebro não conseguiam mais traduzir as informações daquela luz. A bússola de luz não funcionava mais. As mariposas passaram a se atirar sobre os focos de luz de maneira aparentemente suicida. Da mesma forma que nos surpreende ver as mariposas se chocando aparentemente de propósito contra as lâmpadas, deveria nos surpreender porque os humanos perdem tanto tempo de suas vidas se imolando em rituais de religiões, em culpas, em guerras por motivos religiosos. Há tanta coisa mais interessante e útil para ser feita nesta vida. A hipótese levantada por Dawkins é que a característica de nossa espécie que mantém as religiões ativas nos foi útil para que sobrevivêssemos no passado. Imaginem nossos antepassados, quando o conhecimento deveria passar de pais para filhos, quando a experiência pessoal devia ser passada às crianças de maneira objetiva e sem questionamento. No começo de nossa espécie, a regra “acredite sem questionamentos” foi muito útil para que crianças não tivessem dúvidas e seguissem regras importantes como “não chegar perto da beira de um precipício, não comer frutas vermelhas desconhecidas, ou não entrar nesse rio de crocodilos”. A preservação e desenvolvimento inicial de nossa espécie deve muito à característica de obedecer aos pais, obedecer aos anciãos. Mas estes procedimentos, ou, como chamam os evolucionistas, estes “subprodutos de comportamento” podem se tornar indesejados, podem deixar de ser úteis. Dawkins encerra seu raciocínio: “Mas, assim como as mariposas, ela (esta característica humana) pode dar errado.” Talvez seja isso que estamos assistindo. As religiões estão dando errado. Quanto tempo levaremos para perceber isso?

[Tirésias da Silva]

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Um comentário em “Deus, Um Delírio. [Richard Dawkins, 2002, Companhia das Letras]”

  1. Caro amigo. Tambem tive a mesma dúvida que você e por isso fui expulso do catecismo, meus pais tambem nunca impuseram a mim uma religião. Ao ler este livro me convenci ainda mais pela minha opção pelo ateismo e concordo com o que você disse. Um abraço

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