Encontro dos Afrânios

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se você conhece alguém na foto acima é certo que se enganou

Sem dúvida, nenhum dos que estiveram no evento confirmaria sua presença. Assim, qualquer semelhança com um conhecido seu é resultado da manipulação grosseira da foto. É fake! Com esta informação ficam preservadas as identidades dos participantes no encontro de fim de ano, realizado no Belmonte do Leblon.

A primeira vista parecia uma cambada de malandros num momento de descontração. A segunda vista também! Era tudo vagabundo, já avançados na idade, reunidos para rebemorar. A maioria era homem. Estranhos. Um incauto poderia imaginar se tratar de alguma seita secreta. Dessas que esperam a volta do Messias. A característica geral era serem todos entrados nos anos (plagiando o Casseta, por favor, atentem para o duplo sentido!). As conversas em voz alta, obrigatoriamente ouvidas em todo o bar, reverenciavam feitos perdidos no tempo. Pelo jeito, o culto é antigo. Carícias eram trocadas por criaturas do mesmo sexo, denotando grande intimidade. Os homens demonstravam algum desleixo com os códigos dos machos competidores. Ocorriam freqüentes afagos nos abdomens, hoje desenvolvidos, remetendo à época em que estes não existiam. A maturidade compulsória permitia beijos emocionados. Em tempo, não era boiolice! Era pura meiguice de idosos. Uns poucos estavam conservados como Dorian Gray. Em muitos, a devastação capilar mostrava cérebros desprotegidos, aquilo que o vulgo chama “carecas”. Animados, movidos apenas por drogas legais (esta informação não foi formalmente confirmada), repetiam chamadas nominais em que os ausentes, temporários ou permanentes, eram lembrados. Deve ser parte do ritual.

Uma expressão era repetida, talvez fosse mensagem codificada. Mencionava a “Turma do Oitenta”. Seria dos oitentas? Bem, ali no Belmonte, naquele dia, só tinha uns vinte e poucos. Também se falava da Afrânio. Era mulher? Era rua? Entre os iniciados, apelidos eram usados como senha de reconhecimento, obviamente com o objetivo de manter os adoradores da seita na clandestinidade. Capturei alguns nomes de guerra: Gê, Zeca, Careca (que tem cabelo), Mica, Guinho, Bacamarte, Ralph, Rob, Pepê, Geninho, Ronaldão, Ronaldinho Dô Força, Marão, Gagá. Outros eram lembrados em míticos relatos que circulavam de mesa em mesa: Raul, Mandinho, Gugu, Miraba, Eurico. Destacou-se o paradeiro ignorado do Urubu, paradigma do “maluco beleza”.

Algumas moças participavam da cerimônia. A seita mostrou ser benevolente com o outro gênero. Tanto melhor. Se bem que em alguns casos pareceu que a parceira do sócio foi verificar de perto de que se tratava a tal festa. Uma jovem senhora demonstrou ser boa de caipirinha. No geral, elas pareciam ser tolerantes com os antigos rapazes. Uma boa mãe até trouxe a filha. O objetivo deve ter sido didático. Conhecendo aquela amostra, a moça poderá discernir no futuro sobre homens de qualidade e os marginais. Resta a pergunta: – A que grupo pertenciam os convivas? Bem, pelo passado deles podemos dizer que … deixa pra lá!

E a noite passou. Resgatou-se um exilado em Floripa. Foi identificado gaúcho, sabidamente morando em Porto Alegre, entretanto ele nunca saiu do Rio. Apontada a falta de engenheiro Raquel, embrenhado na jungle mato-grossense. Mauricio, o Homem do Mercado, não respondia a persistentes chamados no celular. Levaram falta.

O balanço geral apresentou saldo positivo. Juras de contatos futuros freqüentes foram feitas. Alguns churrascos na laje foram agendados. Números de telefone trocados. O ritual da estranha seita correu sem a perturbação da ordem pública, o que mostra a evolução dos cidadãos presentes ou apenas que virou tudo bundão senil. O Bar Belmonte, complacente com os eufóricos senhores, deixou-os curtirem a efeméride. A testemunha – aqui lavrando a ata – se sabe chato, mas não poderia deixar de registrar tão magnífico momento. Tocado pela emoção, remeto ao filme Stand by Me, baseado (este artigo tinha que ter um baseado!) em livro do Stephen King, que conta os problemas de uma turma de garotos às voltas com seus ritos de passagem. Na última cena do filme o narrador escreve em uma tela de computador: “I never had any friends later on like the ones I had when I was twelve. Jesus, does anyone?” Fica a pergunta: realmente fazemos verdadeiros amigos além daqueles de nossa juventude? A questão fica como tema de debate para depois da segunda caipirinha do próximo evento.

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