Mulher Polemikos 2007

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miséria brasil: menina, presos, estupros, delegados, governadora

Está eleita! Não precisamos esperar o final de dezembro. Encontramos a síntese da mulher brasileira em 2007. Não tem nome. Não tem rosto. Mas certamente será a figura feminina mais importante na consciência dos nativos. Como todos já sabem (ou deviam saber) trata-se de uma menina de quinze anos que foi colocada numa cela com vinte presos, durante vinte e seis dias. A polícia da cidade de Abaetetuba a deixou lá. Consta que ela trocava sexo por comida. Sem dúvida, uma forma de tortura hedionda. Os presos cumpriram sua parte no roteiro e, com regularidade, abusaram sexualmente da presa. O delegado da cadeia declarou candidamente que a menina foi colocada lá “porque não disse que era menor”. Outro, afirmou que ela tinha algum tipo de debilidade mental, motivo porque não declarou que era menor de idade. A partir das declarações das autoridades, algum mais distraído pode achar que as brasileiras, ao atingirem a maioridade, ganham o direito a serem colocadas em jaulas com presos do sexo masculino para serem estupradas. A grosseria é colossal. O crime não foi prerrogativa de homens. Uma delegada achou natural colocar a adolescente na cela com os presos. A governadora do Pará, depois de relutar em fazer declarações, frente à pressão nacional, recriminou o delgado. Ele, depois, pediu demissão. A governadora aceitou o pedido. É provável que nada mais seja feito a respeito. A governadora cumpriu o ritual de jogar o assunto para debaixo do tapete. Ela declarou que fatos como esse devem acontecer em outros lugares do país e que precisa de mais verba. Agora, a governadora Ana Júlia Carepa vai concentrar esforços em esquecer o assunto.

Esta menina é um símbolo. Quem vive a violência no Rio e em São Paulo, não pode imaginar o que é ser brasileiro nos confins da Amazônia. Não são apenas as mulheres que sofrem. Ou vocês pensam que os presos que conviveram com a menina têm boa vida? Imaginem os maus tratos por que passam os presos nas mãos da polícia do Pará. Se acham o Rio lugar ruim de se viver, imaginem no Pará. Lá, o valor da vida humana é pequeno. E a vida de uma menina vale muito pouco.

Mas, nesse caso, infelizmente, ficamos sabendo. A polícia do Pará errou e permitiu que as notícias chegassem até nós. Nosso embotamento como cidadãos foi vencido pela degradação a que a menina foi exposta. Ela é o emblema dos direitos dos brasileiros em 2007. O sistema está falido. As autoridades hesitam entre tirar dinheiro das quadrilhas, entrar para elas ou formar a própria. A cada dia, em alguma esquina do país, algum direito é estuprado pela lei da força estabelecida. Os mais humildes são humilhados sistematicamente. A fragilidade da mulher apenas evidencia a vulnerabilidade de cidadãos de ambos os sexos.

O troféu Mulher Polemikos 2007 vai para a menina estuprada do Pará. Ela dividirá o prêmio com as outras brasileiras.

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