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A escolha do Homem de 1999 – maior laurel concedido por Polemikos aos cidadãos brasileiros que se destacaram no ano que passou – é um processo sensível e complexo.
Como chefe de redação desse site de opinião, repousou sobre meus ombros a tarefa hercúlea de escolher a magna personalidade masculina de 1999. Adepto e cultivador de práticas democráticas, decidi, inicialmente, pela consulta a outros colaboradores permanentes do site. Como vocês podem ver a seguir, o processo de consultar outros membros do conselho editorial não foi exatamente bem sucedida.
Solicitado a dar sua indicação para Homem do 1999, nosso viperino Severino sugeriu a cantora Cássia Eller. Não desmerecendo a grande intérprete, achei um pouco ousado indicá-la. A consulta a Eugenia Corazon também se mostrou pouco fértil. Talvez, ainda magoada com a escolha da Mulher de 1999, Eugenia sugeriu, como destaque de homem brasileiro, o ator Thiago Lacerda, que interpreta o belo Mateu na novela das oito da Globo. Eugenia defendeu a escolha dizendo que ele foi o homem que povoou os sonhos das mulheres (e boa parte dos homens) em 1999. Puro revanchismo! Ernesto Friedman aproveitou para criticar a escolha de Eugenia, lembrando que o Mateu se mostrou um rapaz estranho. Não conseguiu fazer a barba desde o começo da novela, que já se arrasta por várias meses. Entretanto, mesmo assim, a tal barba não cresceu, mantendo o charmoso estilo “descuidado premeditado”. Ernesto Friedman, enfim, deu seu voto para o agora imortal Roberto Campos. Fez uma ressalva, entretanto, à criatividade do ex-ministro, que passou boa parte do segundo semestre repetindo a piada de que o brasileiro é imortal, dado que nossa constituição garante o “direito à vida”. Um tédio intelectualizado. Resumindo: desisti do apoio da equipe e tomei para mim a responsabilidade da escolha.
Dentre os candidatos com possibilidade de vitória, o ministro da Saúde José Serra conseguiu se manter no noticiário. Ressalte-se que mais pela sua competência em tratar com a mídia do que pelos fatos que produziu na gestão da saúde brasileira. Outro ministro que tinha grandes possibilidades foi a eminência parda do governo FHC, o ex-ministro Clóvis Carvalho. Mas este pisou na bola, falou o que não devia, mexeu com gente mais poderosa (no caso Pedro Malan) e teve de ser afastado pelo amigo FHC. Saiu do catálogo. Mas Pedro Malan ficou firme. Este é um que administra o poder sem muito se expor. Deve subir no futuro. Por enquanto, ele ainda não chegou ao estrelato em Polemikos.
No final das contas, sobraram dois candidatos de peso: as siglas FHC e ACM. O primeiro, foi escolhido pelo povo e ganha para aparecer entre os finalistas dos cidadãos importantes do Brasil a cada ano. Entretanto, parece que FHC não tem vocação para a liderança. Mostrou-se um intelectual hesitante. Fácil nos recuos. Pouco afeito às grandes batalhas. Um político burocrático voltado para cultivar os rituais do cargo, dançar conforme a dança, passear de avião e deixar a coisa andar. Ou seja: nada do que o Brasil precisa no momento. Resultado: atingiu níveis de rejeição crescentes durante todo o ano. Fica para outra ocasião.
E ACM? Bem, este foi o nome que ditou o ritmo do cenário político brasileiro em 1999. Sua influência na política brasileira é antiga e sua escolha é merecida até mesmo pelo conjunto da obra. ACM começou o ano sofrendo pela perda do filho, com a expectativa geral de que o trauma iria derrubar o trator político baiano. Doce ilusão! O homem tirou mais força da peça que o destino lhe pregou e partiu para exercer o poder propiciado por seu cacife político do PFL, sua experiência e o pouco interesse de FHC pela atividade.
ACM passou 1999 nadando de braçada. Surpreendeu a todos descobrindo a pobreza brasileira. Causou espécie o homem que controla as telecomunicações no país há décadas, só vir ter acesso a esta informação – de conhecimento geral – no finalzinho do milênio. Outra descoberta fascinante do senador foi o corporativismo do poder judiciário. É claro que a pressão que ACM exerceu sobre os abastados juizes brasileiros pode ser apenas mais um lance do interminável jogo de “pressionar para ganhar” que o político baiano exercita como ninguém. E faz parte do jogo que o povo nunca saiba as verdadeiras intenções desses atos. Assim, ficamos apenas a especular o que move o senador em suas campanhas.
Antonio Carlos Magalhães foi o homem de 1999. Ele controlou o poder no Brasil. Foi um Golbery com poderes executivos. Ofuscou a pouco competente oposição. Ditou os temas a serem discutidos pela nação. Fica registrada a frase do recém falecido General Figueiredo sobre ACM: “Se houvesse um sistema mundial para medir mau-caráter, ele seria a unidade do sistema. Ele é mau, é mau.”
Como dissemos, faz parte do jogo político pesado que a verdade fique escondida pelas várias versões correntes. A frase do general da ditadura é mais uma faceta dessas versões. A propósito, alguém se arrisca a cutucar o senador e desenvolver esse tema?