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O melhor filme de 2007, eu vi em 2008. A Vida dos Outros é uma jóia de cinema. Foi escrito e dirigido por Florian Henckel von Donnersmarck. Ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2007.
O filme se passa nos últimos anos do governo comunista na Alemanha Oriental. São os anos 80, não é uma época remota da história. A polícia do estado alemão, a Stazi, monta gigantesco esquema para vigiar os cidadãos. Não é ficção pura, nem um caso particular da maldade dos comunistas. O SNI brasileiro fez coisa semelhante durante a ditadura militar brasileira. A diferença, bem mostrada no filme, é a vocação alemã para fazer as coisas com competência, mesmo que a tarefa seja esmagar a liberdade dos cidadãos.
Os personagens de A Vida dos Outros são antológicos. O eficiente agente Gerd Wiesler recebe a incumbência de vigiar e obter provas contra o bem sucedido dramaturgo Georg Dreyman e sua bela esposa Christa. É pura mitologia. O casal é manipulado como os mortais da mitologia grega, que eram joguetes na mão dos deuses. No caso, os deuses são os todo-poderosos burocratas do partido no final do comunismo. O autor de teatro Dreyman sobrevive acomodado às restrições do sistema. O interesse do Ministro da Cultura pela bela Christa, namorada de Gerd Wiesler, desencadeia um jogo de poder onde os interesses pessoais dos altos membros do partido vão asfixiando a vida do casal de artistas.
No início, o agente Wiesler parece um Javert, o implacável policial do romance Os Miseráveis, de Vitor Hugo. Entretanto, em contato com a vida do artista, Wiesler muda. Comparando os inescrupulosos com que ele convive dentro da polícia e na política, o contato com a glamurosa vida do artista vai aos poucos transformando Wiesler. Já o belo dramaturgo Georg Dreyman e a esposa Christa têm suas vidas lentamente destruídas. Ele tem que ceder às limitações que lhe impõem para manter seu trabalho. Sua namorada Christa tem que ser mais literal nos favores que tem que prestar aos donos do poder.
A interpretação de Ulrich Mühe, que faz o agente Wiesler, é um show. Com o mero olhar, ele enche o filme com sua atuação. Curiosidade: Ulrich Mühe veio a falecer pouco depois de fazer este filme. Mas a qualidade do elenco é boa e generalizada. A ambiguidade do escritor relutante. A fraqueza da atriz que não resiste à pressão do sistema. Tudo aparece com muito equilíbrio.
Em certo momento do filme, um intelectual perseguido pela polícia dá de presente a Dreyman a pauta da música Uma Sonata Para um Homem Bom. O título se ajusta bem ao cooptado Dreyman. Seria mesmo um bom título para o filme. No final, o filme nos mostra quem realmente é o homem bom.
[Tirésias da Silva]
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