Adan Tooze apresenta avaliação interessante. China avança no investimento em energia verde, com foco nas placas solares. Enquanto isso, EUA retorna aos tempos do investimento em petróleo, como parte de sua estratégia de volta ao passado. Tooze aponta a possibilidade de vir acontecer alinhamento entre Estados Unidos, Arábia Saudita e Rússia – que parece parceria inviável – apoiados na escolha da energia fóssil para nortear o futuro do planeta. Sua tese considera a possibilidade de uma nova guerra fria que mistura ideologia, tecnologias críticas, cadeias de suprimentos e controle da energia. O economista aborda a dinâmica desse novo equilíbrio (ou desequilíbrio) de forças e como isso se refletirá no aquecimento global. Vamos ouvir mais sobre isso no futuro.
Autor: Ernesto Friedman
Por que Donald Trump não gosta do Pix?
Estava tudo andando tranquilo. Mastercard e Visa ganhando uma grana com seus cartões e chegou o Pix. Algum CEO da indústria de cartões alertou o presidente americano da ameaça que a solução brasileira faz aos lucros dos cartões. E o presidente americano prontamente colocou o Pix brasileiro na lista de motivos para sanções contra o Brasil. O motivo é simples: quando os brasileiros usam o Pix no lugar dos cartões de crédito e débito, isso afeta o faturamento das administradoras dos cartões. O lobby dessas empresas deve ter cutucado Donald Trump. A tecnologia expôs o modelo de negócio das administradoras de cartões. A importância desse negócio é tão grande que a legislação americana protege o mercado dos cartões de crédito. Tem lei específica definindo que o governo dos EUA não pode criar seu próprio Pix.
Vamos entender: Comprar no cartão de crédito é mais caro! Não parece, né? A ideia é essa mesmo. Parecer que comprar no cartão é fácil, confortável e financeiramente atraente. É fácil e confortável, mas custa mais caro. A gente paga mais para ter as facilidades do cartão. Foi criado um inteligente modelo de negócio para os estabelecimentos aceitarem cartões e os consumidores usarem. No passado, o cartão trazia inúmeras facilidades: não precisava fazer cheque, não precisava ter dinheiro na carteira e nem no banco. Isso sem falar no status associado ao cartão de plástico.
A grande vantagem do cartão é trazer embutido o sistema de crédito automático a ser quitado na próxima fatura. Mas não há almoço grátis. Quando pagamos com cartão de crédito, o vendedor paga mais de 2% de custos à administradora do cartão. Claro que ele repassa esse custo pra gente, o consumidor. Poderíamos comprar tudo à vista com bom desconto, mas um gênio do marketing (junto com muito lobby) definiu que comprar no cartão de crédito é igual a comprar à vista. Desde 2017 é permitido aos estabelecimentos comerciais darem desconto para as compras à vista, mas poucos o fazem. Por que será? Os negociantes não sabem fazer as contas e ganhar mais de 2% em cada compra à vista? Ou será que há alguma pressão para “vender” no cartão de crédito?
Em 2004, escrevi artigo sobre os juros escondidos nas compras com cartão. Na época, a estrutura de suporte à operação do cartão oferecia atraente comodidade no seu uso. Mesmo aquele comprovante de compra que precisávamos assinar, era bem funcional comparado com dinheiro vivo ou cheques. Mas o tempo foi passando. O celular se popularizou, a tecnologia de informação se desenvolveu e, curiosamente, o Brasil saiu na frente no cenário mundial criando a bela solução de pagamento chamada Pix. Com ela, podemos ter a mesma comodidade do cartão e não haver custo para o vendedor e o consumidor. (Na verdade, as empresas pagam uma pequena taxa para transações com Pix. Mas é muito pequena em comparação com aquelas dos cartões.)
E o caso específico do cartão de débito? Com o advento do Pix, fica sem sentido pagar com cartão de débito. Afinal, com o Pix, o dinheiro sai da conta instantaneamente, do mesmo jeito que na compra com cartão de débito. Confiando na IA do Copilot, temos que “o valor da tarifa no Pix varia por instituição, mas costuma ser bem menor que as taxas de cartão, sendo muitas vezes entre R$0,50 e R$1,50 por transação ou um pequeno percentual (ex: 0,5%). Já no cartão de crédito as taxas são significativamente mais altas: geralmente entre 2% e 5% do valor da venda e o prazo de recebimento pode variar de 2 a 30 dias, dependendo do plano.” O cartão ainda tem a taxa de administração que é cobrada para boa parte dos usuários. Difícil achar graça em usar cartão de débito no lugar do Pix. Cabe a pergunta: por que não trocamos o cartão de débito pelo eficiente Pix?
Já o cartão de crédito não é igual ao Pix. A vantagem do cartão de crédito é… o crédito com prazo médio de um mês, que é o tempo até o pagamento da próxima fatura, crédito esse que pode ser prorrogado automaticamente. Se o consumidor não tem o dinheiro na hora, o cartão de crédito permite que ele antecipe a compra para pagar depois, mesmo sabendo que comprar sem ter o recurso para pagar é perigoso, ainda mais no Brasil, onde os juros do cartão de crédito são da ordem de 10% ao mês. Mas isso já é outra conversa.
Sem esquecer que estaremos pagando pelas benesses, os cartões apresentam alguns agrados para se diferenciar amarrar os clientes. Têm as famosas milhas, uma moeda paralela que é boa maneira de incentivar seu uso. Tem o parcelamento da compra, que pode ser oferecido pelo comerciante na compra por cartão. É jeito sorrateiro de vender crédito ao consumidor mesmo que ele não queira. E o preço pode ser parcelado em até inúmeras vezes sem juros. Boa maneira de esconder o preço à vista. Claro que o produto ou serviço podiam ser vendidos à vista por um preço melhor! Em tempo: o Pix vai oferecer também a funcionalidade de parcelamento. Será implantado até o fim de 2025. Nosso Banco Central está mesmo a fim de fazer maldade com as administradoras de cartões.
Como deveria ser? Os consumidores deviam ser orientados sobre finanças pessoais. O crédito embutido na transação deveria ser explicitado. Por exemplo, com as taxas de juros atuais, seria razoável que um produto ou serviço tivesse dois preços. A compra à vista deveria ter um desconto de pelo menos 1%, mas pode ser bem maior. A vantagem de receber dinheiro à vista também é muito boa para as empresas. Tanto é que encontramos muitos estabelecimentos oferecendo 5% de desconto na compra à vista. O comerciante não é burro. Se ele dá desconto na compra à vista é porque o dinheiro antecipado facilita a administração do seu fluxo de caixa. Acreditem que na internet aparece texto dizendo que vender no cartão, apesar dos custos, é bom para a empresa para dar previsibilidade ao fluxo de caixa. Queria encontrar esse comerciante que quer receber o dinheiro depois para ter mais controle do caixa. Risível.
Então é isso. Os consumidores precisam saber e praticar que o desconto que pedem na compra à vista é financeiramente justo. Se os brasileiros começarem a dar preferência a pagar com Pix, suas compras vão ficar mais baratas. Infelizmente, os lucros do Mastercard e da Visa vão diminuir. Negócios são assim. De repente, aparece uma novidade e sua empresa se torna obsoleta.
Kasparov em Substack
“O objetivo da propaganda moderna não é apenas desinformar ou impor uma agenda. É esgotar pensamento crítico das pessoas, aniquilar a verdade.”
Em sua coluna em Substack, Kasparov analisa mudanças nas linhas de frente na batalha contra o autoritarismo e insights estratégicos sobre o que fazer a seguir. Bons movimentos do grande mestre.
Que fique claro: criptomoeda é corrente!
Os golpes das correntes vêm se aprimorando ao longo tempo. Era uma brincadeira nas universidades para pegar trouxas que entravam no final da cadeia de venda do sonho de ganhar muita grana sem fazer esforço. Quem começou ou entrou cedo na corrente ganhava uma boa grana. Aqueles que chegavam mais tarde (a maioria) perdia muito ou todo o dinheiro que colocavam. O golpe tinha nome, esquema Ponzi. O mais famoso no sistema financeiro foi promovido por Bernie Mardoff, gerou prejuízos de 65 bilhões de dólares para os investidores no seu “lucrativo” fundo.
Mas o show tem que continuar. Tem que dobrar as apostas. Então, temos as criptomoedas e sua mais famosa representante: o Bitcoin. E lá vamos nós de novo. Quem comprou (digo, entrou) cedo no esquema, já ficou milionário. E aguçou os gananciosos. E tome gente fazendo fila para comprar as ditas moedas. Influencers e “especialistas” em investimentos recomendam como investimento. Há os bobos de sempre que entram porque souberam de alguém que ficou rico. Tem os quase espertos, que entram no risco, apostando que muitos outros vão entrar depois deles e o valor da criptomoeda vai subir. Criptomoeda é corrente. Enquanto tiver gente para entrar no jogo, seu valor se sustenta ou aumenta. Eventualmente, vai promover ganhos para os espertos e perdas para os incautos. Não é moeda legítima. O papel moeda está desaparecendo e o controle de moedas digitais é cada vez mais invasivo. Ter meio de esconder ganhos e poder transacionar com ele sem controle dos governos e polícias é o sonho de qualquer criminoso de alto nível.
Essa corrente continua…
Claudio Urubu
Morreu Cláudio Urubu. Quem sabe sabe. Seu nome era Cláudio Azeredo. Muitas notas na internet relatam sua saída de cena. Eu alimentava a esperança de ir a Miguel Pereira para jogar conversa fora com o amigo de juventude. A ideia foi adiada tantas vezes. Não fui. Não vai rolar.
Cláudio era uma figura. Os relatos destacam suas composições em parceria com Raul Seixas. Foram cerca de trinta músicas. Adoro “cowboy fora da lei”, mas Cláudio foi mais que isso. Talvez tenha sido a justa definição do maluco beleza ou um verdadeiro porra louca.
Cláudio tinha característica marcante. Entrava de cabeça no que fazia. Não veio de brincadeira. Fez escola de educação física. Era quase um atleta. Faixa verde de karatê, era bom professor. Deu aula pra mim e outros da Turma do 80. Dominava os katas. Os executava com perfeição. Tinha um pastor alemão super treinado. Por quem? Por ele. Bonito de ver quando o cão encostava no dono para atravessar a rua. Íamos no Jardim de Alah para Alfie (seria esse o nome?) correr e gastar as unhas.
Cláudio pintava miniaturas e tecidos. A garrucha de plástico pintada por ele parecia de verdade e fazia bom papel numa decoração de parede. Não era bom em esportes com bolas. Gostava muito do vôlei, mas não teve o amor correspondido. Era bom para movimentos bruscos. Lhe faltava a leveza para controlar a bola. Tinha competência no xadrez. Quantas vezes não montamos uma mesa de areia na praia do Leblon para jogar em tabuleiro improvisado. Tinha voz poderosa. Era um show de anarquia ele entoar trechos do Barbeiro de Sevilha na madrugada da Afrânio. Bom parceiro na sinuca da praça General Ozório. Não tínhamos dinheiro. A sinuca era diversão certa e barata. Idas ao banheiro para cheirar algum estímulo lhe davam confiança no taco, mas pioravam seu jogo. A sinuca era seguida do protocolar caldo de cana vendido na esquina da Pirajá com Jangadeiros. Era o que bastava. A grana ou a falta dela geravam boas oportunidades para inventar o que fazer. Uma caminhada conversando do Leblon ao fim de Ipanema funcionava como programa da noite.
Era um bom companheiro. Que não se esperasse dele comedimento. Liderava a ousadia nas aventuras na Zona Sul. Era um anarquista. De carro, aprontávamos nas madrugadas. Era criativo. Por que não roubar gasolina dos tanques dos carros estacionados no Bar Vinte se bastava introduzir um tubo no tanque e sugar o combustível para uma garrafa plástica? Mexer com as meninas nos pontos de ônibus? Outras maluquices beleza menos confessáveis foram perpetradas. Um quibe com coca-cola no fim de noite num boteco da Prado Junior ou um pedaço de pizza na Guanabara forravam o estômago antes de ir dormir.
As drogas rolavam. Num verão, a maconha sumiu do mercado, substituída pelo pó, oferecido a preço de ocasião. Eu estava em sua casa quando o pessoal experimentou a primeira carreira. Depois desse verão, as experiências esporádicas com Mandrix e ácido deram lugar ao mercado robusto da branquinha. Cláudio foi fundo nesse formato.
Nossos contatos foram minguando. Eu era o CDF fazendo engenharia da PUC e ele investia forte na criação musical. Cláudio competia com Paulo Coelho na posição de parceiro do Raul.
Cláudio se exilou em Miguel Pereira. Uma vez nos encontramos e me mostrou que lhe faltava um dos dentes da frente. A explicação: uma égua arredia lhe retirara o dente com um coice. Nada de excepcional. Notícias cada dia mais esparsas davam conta que estava criando galos de briga. Como era de seu feitio, acredito que seus animais eram os melhores treinados.
Depois disso, só o contato mais recentes com vídeos de YouTube tratando do roqueiro beleza recluso em Miguel Pereira. E veio a surpresa. Um problema no coração, uma cirurgia, dificuldades posteriores e Cláudio se foi. Que merda, não fiz a planejada viagem a Miguel Pereira.
Distribuir renda alterando alíquotas de imposto de renda
Tempos de eleições exacerbam a criatividade dos candidatos. Uma das propostas que surgiram nas campanhas de 2018 foi a isenção do imposto de renda para pessoas com renda mensal até R$5.000,00. A ideia é populista e visa diretamente ganhar votos do pessoal de menor renda. É populista pois uma isenção de pagamento de impostos reduz a arrecadação, que já é um problema fiscal do governo brasileiro. E como seria coberta a redução dos impostos? Pergunta tão óbvia não foi respondida. A origem da quantia para repor a renúncia fiscal apresentada não fez parte do discurso dos candidatos. Continue lendo “Distribuir renda alterando alíquotas de imposto de renda”