Poluir ou não poluir define o futuro

Adan Tooze apresenta avaliação interessante. China avança no investimento em energia verde, com foco nas placas solares. Enquanto isso, EUA retorna aos tempos do investimento em petróleo, como parte de sua estratégia de volta ao passado. Tooze aponta a possibilidade de vir acontecer alinhamento entre Estados Unidos, Arábia Saudita e Rússia – que parece parceria inviável – apoiados na escolha da energia fóssil para nortear o futuro do planeta. Sua tese considera a possibilidade de uma nova guerra fria que mistura ideologia, tecnologias críticas, cadeias de suprimentos e controle da energia. O economista aborda a dinâmica desse novo equilíbrio (ou desequilíbrio) de forças e como isso se refletirá no aquecimento global. Vamos ouvir mais sobre isso no futuro.

Resumo da queda da PEC da Bandidagem

A Comissão de Constituição e Justiça do Senado rejeitou por unanimidade a proposta de emenda constitucional conhecida como "projeto de lei da blindagem", apresentando o resultado mais claro e contundente dos protestos de rua do último domingo (21/09/2025). O argumento definitivo veio do relator Alessandro Vieira (MDB-SE), que observou que, em 13 anos de vigência da norma, apenas um em cada quase 300 pedidos de investigação contra parlamentares foi autorizado. Ele calculou que, desde a mudança constitucional de 2001, um terço do Congresso se tornou réu ou alvo de investigações. Isso explica a facilidade com que a medida foi aprovada na Câmara dos Deputados e a firmeza com que foi enterrada no Senado — impulsionada pela pressão das ruas. (de Valor Econômico, 25/09/2025)

	

Por que Donald Trump não gosta do Pix?

Estava tudo andando tranquilo. Mastercard e Visa ganhando uma grana com seus cartões e chegou o Pix. Algum CEO da indústria de cartões alertou o presidente americano da ameaça que a solução brasileira faz aos lucros dos cartões. E o presidente americano prontamente colocou o Pix brasileiro na lista de motivos para sanções contra o Brasil. O motivo é simples: quando os brasileiros usam o Pix no lugar dos cartões de crédito e débito, isso afeta o faturamento das administradoras dos cartões. O lobby dessas empresas deve ter cutucado Donald Trump. A tecnologia expôs o modelo de negócio das administradoras de cartões. A importância desse negócio é tão grande que a legislação americana protege o mercado dos cartões de crédito. Tem lei específica definindo que o governo dos EUA não pode criar seu próprio Pix. 

Vamos entender: Comprar no cartão de crédito é mais caro! Não parece, né? A ideia é essa mesmo. Parecer que comprar no cartão é fácil, confortável e financeiramente atraente. É fácil e confortável, mas custa mais caro. A gente paga mais para ter as facilidades do cartão. Foi criado um inteligente modelo de negócio para os estabelecimentos aceitarem cartões e os consumidores usarem. No passado, o cartão trazia inúmeras facilidades: não precisava fazer cheque, não precisava ter dinheiro na carteira e nem no banco. Isso sem falar no status associado ao cartão de plástico.

A grande vantagem do cartão é trazer embutido o sistema de crédito automático a ser quitado na próxima fatura. Mas não há almoço grátis. Quando pagamos com cartão de crédito, o vendedor paga mais de 2% de custos à administradora do cartão. Claro que ele repassa esse custo pra gente, o consumidor. Poderíamos comprar tudo à vista com bom desconto, mas um gênio do marketing (junto com muito lobby) definiu que comprar no cartão de crédito é igual a comprar à vista. Desde 2017 é permitido aos estabelecimentos comerciais darem desconto para as compras à vista, mas poucos o fazem. Por que será? Os negociantes não sabem fazer as contas e ganhar mais de 2% em cada compra à vista? Ou será que há alguma pressão para “vender” no cartão de crédito? 

Em 2004, escrevi artigo sobre os juros escondidos nas compras com cartão. Na época, a estrutura de suporte à operação do cartão oferecia atraente comodidade no seu uso. Mesmo aquele comprovante de compra que precisávamos assinar, era bem funcional comparado com dinheiro vivo ou cheques. Mas o tempo foi passando. O celular se popularizou, a tecnologia de informação se desenvolveu e, curiosamente, o Brasil saiu na frente no cenário mundial criando a bela solução de pagamento chamada Pix. Com ela, podemos ter a mesma comodidade do cartão e não haver custo para o vendedor e o consumidor. (Na verdade, as empresas pagam uma pequena taxa para transações com Pix. Mas é muito pequena em comparação com aquelas dos cartões.)

E o caso específico do cartão de débito? Com o advento do Pix, fica sem sentido pagar com cartão de débito. Afinal, com o Pix, o dinheiro sai da conta instantaneamente, do mesmo jeito que na compra com cartão de débito. Confiando na IA do Copilot, temos que “o valor da tarifa no Pix varia por instituição, mas costuma ser bem menor que as taxas de cartão, sendo muitas vezes entre R$0,50 e R$1,50 por transação ou um pequeno percentual (ex: 0,5%). Já no cartão de crédito as taxas são significativamente mais altas: geralmente entre 2% e 5% do valor da venda e o prazo de recebimento pode variar de 2 a 30 dias, dependendo do plano.” O cartão ainda tem a taxa de administração que é cobrada para boa parte dos usuários. Difícil achar graça em usar cartão de débito no lugar do Pix. Cabe a pergunta: por que não trocamos o cartão de débito pelo eficiente Pix?

Já o cartão de crédito não é igual ao Pix. A vantagem do cartão de crédito é… o crédito com prazo médio de um mês, que é o tempo até o pagamento da próxima fatura, crédito esse que pode ser prorrogado automaticamente. Se o consumidor não tem o dinheiro na hora, o cartão de crédito permite que ele antecipe a compra para pagar depois, mesmo sabendo que comprar sem ter o recurso para pagar é perigoso, ainda mais no Brasil, onde os juros do cartão de crédito são da ordem de 10% ao mês. Mas isso já é outra conversa. 

Sem esquecer que estaremos pagando pelas benesses, os cartões apresentam alguns agrados para se diferenciar amarrar os clientes. Têm as famosas milhas, uma moeda paralela que é boa maneira de incentivar seu uso. Tem o parcelamento da compra, que pode ser oferecido pelo comerciante na compra por cartão. É jeito sorrateiro de vender crédito ao consumidor mesmo que ele não queira. E o preço pode ser parcelado em até inúmeras vezes sem juros. Boa maneira de esconder o preço à vista. Claro que o produto ou serviço podiam ser vendidos à vista por um preço melhor! Em tempo: o Pix vai oferecer também a funcionalidade de parcelamento. Será implantado até o fim de 2025. Nosso Banco Central está mesmo a fim de fazer maldade com as administradoras de cartões.

Como deveria ser? Os consumidores deviam ser orientados sobre finanças pessoais. O crédito embutido na transação deveria ser explicitado. Por exemplo, com as taxas de juros atuais, seria razoável que um produto ou serviço tivesse dois preços. A compra à vista deveria ter um desconto de pelo menos 1%, mas pode ser bem maior. A vantagem de receber dinheiro à vista também é muito boa para as empresas. Tanto é que encontramos muitos estabelecimentos oferecendo 5% de desconto na compra à vista. O comerciante não é burro. Se ele dá desconto na compra à vista é porque o dinheiro antecipado facilita a administração do seu fluxo de caixa. Acreditem que na internet aparece texto dizendo que vender no cartão, apesar dos custos, é bom para a empresa para dar previsibilidade ao fluxo de caixa. Queria encontrar esse comerciante que quer receber o dinheiro depois para ter mais controle do caixa. Risível.

Então é isso. Os consumidores precisam saber e praticar que o desconto que pedem na compra à vista é financeiramente justo. Se os brasileiros começarem a dar preferência a pagar com Pix, suas compras vão ficar mais baratas. Infelizmente, os lucros do Mastercard e da Visa vão diminuir. Negócios são assim. De repente, aparece uma novidade e sua empresa se torna obsoleta. 

Eleições de 2026 tomando forma

As cartas estão lançadas. Começou a corrida para a eleição do próximo presidente. O cenário está se delineando.

Do lado do bolsonarismo se firma que Jair Bolsonaro está fora do baralho. Deverá ser julgado, condenado e preso. O esforço dos filhos não deve tirar o pai do cadafalso. O nome Bolsonaro ainda terá cacife no eleitorado. A direita mais objetiva se aglutina em torno de Tarcísio de Freitas. Governador de São Paulo bem avaliado, afilhado de Bolsonaro, é candidato perfeito para o pleito. A família Bolsonaro deve colocar um segundo candidato com o brand Bolsonaro. Eduardo não serve mais. Escolheu trair o Brasil e viver nos EUA. Os outros irmãos não tem relevância suficiente. O nome para carregar a marca é a Michele. Num primeiro turno, ela será útil para garantir votos dos bolsonaristas raiz. Não tem força para ir para o segundo turno. Seus eleitores terão que digerir Tarcísio, aliás ele que tem se comprometido em indultar Jair. É o caminho para Bolsonaro voltar pra casa.

Na esquerda a cartada é mais rígida: Lula! O PT não preparou opção ao ex-metalúrgico. Aliás, Lula nunca se interessou em deixar herdeiros. Dilma foi um poste que mostrou a força de Lula. Haddad seria boa opção para a continuidade do modelo atual da esquerda no Brasil. É preparado, mas não tem suporte popular para um embate com os candidatos da direita. Então, teremos Lula na cédula.

Vai ser assim. Lula contra um emergente das fileiras bolsonarianas.

Kasparov em Substack

“O objetivo da propaganda moderna não é apenas desinformar ou impor uma agenda. É esgotar pensamento crítico das pessoas, aniquilar a verdade.”

Em sua coluna em Substack, Kasparov analisa mudanças nas linhas de frente na batalha contra o autoritarismo e insights estratégicos sobre o que fazer a seguir. Bons movimentos do grande mestre.

Expansionismo na moda

Numa conferência de imprensa, o presidente eleito Donald Trump recusou-se a descartar o uso da força militar ou da coerção econômica para tomar a Groenlândia e o Canal do Panamá. Também comentou que o Canadá deveria virar o 51o estado americano, que existe, segundo ele, definido por linhas artificiais de fronteiras. Sugere usar força econômica para forçar o Canadá a se integrar aos EUA. Sensacional. A gente achando muito as pretensões de Putin pela Georgia e o leste da Ucrânia. E Maduro quer pedaço da Guiana, junto com o petróleo, claro. Israel aumentando sua área junto à Síria, sem muita crítica da comunidade ocidental, se é que houve alguma. Tempos estranhos... Imagina só Bolsonaro querendo anexar a Província Cisplatina.