Feliz Ano Novo [Rubem Fonseca]

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Ontem fui a uma livraria e comprei o livro Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca. Nada de especial, diriam vocês. O livro não é nem novo. É verdade. Eu já havia lido. Por que estou comprando de novo? Meu filho de 18 anos está interessado em lê-lo. Vocês devem concordar que um jovem interessado em leitura deve ser incentivado. Então comprei.

Este ato singelo da compra de um livro teve um significado especial. Quando li Feliz Ano Novo, acho que em 1976, ele estava proibido pela censura. O livro não podia ser lido por que “atentava contra a moral e os bons costumes”. Li Rubem Fonseca em cópia xerox. Foi o único livro de contos que li em folhas de xerox grampeadas, como fazemos com os artigos de livros técnicos. Esta situação, hoje estranha, de ler um livro proibido, ficou na memória como um símbolo de meus tempos de universitário na época da ditadura militar.

Foram tempos difíceis, mas o posicionamento político, se a pessoa fosse minimamente razoável, era fácil. Tinha-se que ser contra aquele governo ilegal, torturador, repressor e tudo o mais de errado que ele carregava. Olhando para trás, penso como é valiosa esta certeza. Saber o que tem que ser feito, o caminho a seguir. O complicado veio depois, quando o objeto da nossa repugnância como cidadão se acabou e um grande leque de opções se abriu para o Brasil. Então percebemos que podíamos ser qualquer coisa. De lá pra cá, os líderes da oposição viraram poder. Foram expostos a campanhas eleitorais. Tiveram que fazer coisas que uma oposição não fazia. Não bastou mais “ser contra”. Foi preciso administrar e negociar posições políticas. Dos muitos exemplos, vimos Fernando Henrique Cardoso, sair da posição de esquerda esclarecida e mostrar, cada dia mais, sua vocação para o vai levando, amparado pelo que havia de oportunista e conservador nos tempos do governo militar. Quem diria que as grandes ambições de FHC seriam fazer turismo presidencial e se encastelar como presidente vitalício.

Assim foi. Nosso destino político é apenas um dos infinitos possíveis que poderiam surgir depois da ditadura. Não foi dos melhores. Nossa soberania deslocou-se dos quartéis isolados do povo para os centros de decisão internacionais, também distantes do povo.

Longe de pensar que eu gostava desses tempos em que nos poupavam da tarefa de escolher os livros. Fica é a saudade da nossa ingenuidade, que achava que era bastante não ler o livro da ditadura, os outros eram todos bons. Doce ilusão. A livraria está cheia de livros, das mais diversas qualidades, qualquer história pode nos cair nas mãos. E as prateleiras estão cheias de autores ruins.

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