A Comissão de Constituição e Justiça do Senado rejeitou por unanimidade a proposta de emenda constitucional conhecida como "projeto de lei da blindagem", apresentando o resultado mais claro e contundente dos protestos de rua do último domingo (21/09/2025). O argumento definitivo veio do relator Alessandro Vieira (MDB-SE), que observou que, em 13 anos de vigência da norma, apenas um em cada quase 300 pedidos de investigação contra parlamentares foi autorizado. Ele calculou que, desde a mudança constitucional de 2001, um terço do Congresso se tornou réu ou alvo de investigações. Isso explica a facilidade com que a medida foi aprovada na Câmara dos Deputados e a firmeza com que foi enterrada no Senado — impulsionada pela pressão das ruas. (de Valor Econômico, 25/09/2025)
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Por que Donald Trump não gosta do Pix?
Estava tudo andando tranquilo. Mastercard e Visa ganhando uma grana com seus cartões e chegou o Pix. Algum CEO da indústria de cartões alertou o presidente americano da ameaça que a solução brasileira faz aos lucros dos cartões. E o presidente americano prontamente colocou o Pix brasileiro na lista de motivos para sanções contra o Brasil. O motivo é simples: quando os brasileiros usam o Pix no lugar dos cartões de crédito e débito, isso afeta o faturamento das administradoras dos cartões. O lobby dessas empresas deve ter cutucado Donald Trump. A tecnologia expôs o modelo de negócio das administradoras de cartões. A importância desse negócio é tão grande que a legislação americana protege o mercado dos cartões de crédito. Tem lei específica definindo que o governo dos EUA não pode criar seu próprio Pix.
Vamos entender: Comprar no cartão de crédito é mais caro! Não parece, né? A ideia é essa mesmo. Parecer que comprar no cartão é fácil, confortável e financeiramente atraente. É fácil e confortável, mas custa mais caro. A gente paga mais para ter as facilidades do cartão. Foi criado um inteligente modelo de negócio para os estabelecimentos aceitarem cartões e os consumidores usarem. No passado, o cartão trazia inúmeras facilidades: não precisava fazer cheque, não precisava ter dinheiro na carteira e nem no banco. Isso sem falar no status associado ao cartão de plástico.
A grande vantagem do cartão é trazer embutido o sistema de crédito automático a ser quitado na próxima fatura. Mas não há almoço grátis. Quando pagamos com cartão de crédito, o vendedor paga mais de 2% de custos à administradora do cartão. Claro que ele repassa esse custo pra gente, o consumidor. Poderíamos comprar tudo à vista com bom desconto, mas um gênio do marketing (junto com muito lobby) definiu que comprar no cartão de crédito é igual a comprar à vista. Desde 2017 é permitido aos estabelecimentos comerciais darem desconto para as compras à vista, mas poucos o fazem. Por que será? Os negociantes não sabem fazer as contas e ganhar mais de 2% em cada compra à vista? Ou será que há alguma pressão para “vender” no cartão de crédito?
Em 2004, escrevi artigo sobre os juros escondidos nas compras com cartão. Na época, a estrutura de suporte à operação do cartão oferecia atraente comodidade no seu uso. Mesmo aquele comprovante de compra que precisávamos assinar, era bem funcional comparado com dinheiro vivo ou cheques. Mas o tempo foi passando. O celular se popularizou, a tecnologia de informação se desenvolveu e, curiosamente, o Brasil saiu na frente no cenário mundial criando a bela solução de pagamento chamada Pix. Com ela, podemos ter a mesma comodidade do cartão e não haver custo para o vendedor e o consumidor. (Na verdade, as empresas pagam uma pequena taxa para transações com Pix. Mas é muito pequena em comparação com aquelas dos cartões.)
E o caso específico do cartão de débito? Com o advento do Pix, fica sem sentido pagar com cartão de débito. Afinal, com o Pix, o dinheiro sai da conta instantaneamente, do mesmo jeito que na compra com cartão de débito. Confiando na IA do Copilot, temos que “o valor da tarifa no Pix varia por instituição, mas costuma ser bem menor que as taxas de cartão, sendo muitas vezes entre R$0,50 e R$1,50 por transação ou um pequeno percentual (ex: 0,5%). Já no cartão de crédito as taxas são significativamente mais altas: geralmente entre 2% e 5% do valor da venda e o prazo de recebimento pode variar de 2 a 30 dias, dependendo do plano.” O cartão ainda tem a taxa de administração que é cobrada para boa parte dos usuários. Difícil achar graça em usar cartão de débito no lugar do Pix. Cabe a pergunta: por que não trocamos o cartão de débito pelo eficiente Pix?
Já o cartão de crédito não é igual ao Pix. A vantagem do cartão de crédito é… o crédito com prazo médio de um mês, que é o tempo até o pagamento da próxima fatura, crédito esse que pode ser prorrogado automaticamente. Se o consumidor não tem o dinheiro na hora, o cartão de crédito permite que ele antecipe a compra para pagar depois, mesmo sabendo que comprar sem ter o recurso para pagar é perigoso, ainda mais no Brasil, onde os juros do cartão de crédito são da ordem de 10% ao mês. Mas isso já é outra conversa.
Sem esquecer que estaremos pagando pelas benesses, os cartões apresentam alguns agrados para se diferenciar amarrar os clientes. Têm as famosas milhas, uma moeda paralela que é boa maneira de incentivar seu uso. Tem o parcelamento da compra, que pode ser oferecido pelo comerciante na compra por cartão. É jeito sorrateiro de vender crédito ao consumidor mesmo que ele não queira. E o preço pode ser parcelado em até inúmeras vezes sem juros. Boa maneira de esconder o preço à vista. Claro que o produto ou serviço podiam ser vendidos à vista por um preço melhor! Em tempo: o Pix vai oferecer também a funcionalidade de parcelamento. Será implantado até o fim de 2025. Nosso Banco Central está mesmo a fim de fazer maldade com as administradoras de cartões.
Como deveria ser? Os consumidores deviam ser orientados sobre finanças pessoais. O crédito embutido na transação deveria ser explicitado. Por exemplo, com as taxas de juros atuais, seria razoável que um produto ou serviço tivesse dois preços. A compra à vista deveria ter um desconto de pelo menos 1%, mas pode ser bem maior. A vantagem de receber dinheiro à vista também é muito boa para as empresas. Tanto é que encontramos muitos estabelecimentos oferecendo 5% de desconto na compra à vista. O comerciante não é burro. Se ele dá desconto na compra à vista é porque o dinheiro antecipado facilita a administração do seu fluxo de caixa. Acreditem que na internet aparece texto dizendo que vender no cartão, apesar dos custos, é bom para a empresa para dar previsibilidade ao fluxo de caixa. Queria encontrar esse comerciante que quer receber o dinheiro depois para ter mais controle do caixa. Risível.
Então é isso. Os consumidores precisam saber e praticar que o desconto que pedem na compra à vista é financeiramente justo. Se os brasileiros começarem a dar preferência a pagar com Pix, suas compras vão ficar mais baratas. Infelizmente, os lucros do Mastercard e da Visa vão diminuir. Negócios são assim. De repente, aparece uma novidade e sua empresa se torna obsoleta.
Eleições de 2026 tomando forma
As cartas estão lançadas. Começou a corrida para a eleição do próximo presidente. O cenário está se delineando.
Do lado do bolsonarismo se firma que Jair Bolsonaro está fora do baralho. Deverá ser julgado, condenado e preso. O esforço dos filhos não deve tirar o pai do cadafalso. O nome Bolsonaro ainda terá cacife no eleitorado. A direita mais objetiva se aglutina em torno de Tarcísio de Freitas. Governador de São Paulo bem avaliado, afilhado de Bolsonaro, é candidato perfeito para o pleito. A família Bolsonaro deve colocar um segundo candidato com o brand Bolsonaro. Eduardo não serve mais. Escolheu trair o Brasil e viver nos EUA. Os outros irmãos não tem relevância suficiente. O nome para carregar a marca é a Michele. Num primeiro turno, ela será útil para garantir votos dos bolsonaristas raiz. Não tem força para ir para o segundo turno. Seus eleitores terão que digerir Tarcísio, aliás ele que tem se comprometido em indultar Jair. É o caminho para Bolsonaro voltar pra casa.
Na esquerda a cartada é mais rígida: Lula! O PT não preparou opção ao ex-metalúrgico. Aliás, Lula nunca se interessou em deixar herdeiros. Dilma foi um poste que mostrou a força de Lula. Haddad seria boa opção para a continuidade do modelo atual da esquerda no Brasil. É preparado, mas não tem suporte popular para um embate com os candidatos da direita. Então, teremos Lula na cédula.
Vai ser assim. Lula contra um emergente das fileiras bolsonarianas.
Distribuir renda alterando alíquotas de imposto de renda
Tempos de eleições exacerbam a criatividade dos candidatos. Uma das propostas que surgiram nas campanhas de 2018 foi a isenção do imposto de renda para pessoas com renda mensal até R$5.000,00. A ideia é populista e visa diretamente ganhar votos do pessoal de menor renda. É populista pois uma isenção de pagamento de impostos reduz a arrecadação, que já é um problema fiscal do governo brasileiro. E como seria coberta a redução dos impostos? Pergunta tão óbvia não foi respondida. A origem da quantia para repor a renúncia fiscal apresentada não fez parte do discurso dos candidatos. Continue lendo “Distribuir renda alterando alíquotas de imposto de renda”
Lewandowski esclarece que não houve Mensalão. Puxa vida, agora estou tranquilo.
O revisor do julgamento do Mensalão esclarece a nação de que não houve Mensalão. Puxa! Que bom! Levandowski absolveu José Dirceu, que Chefe da Casa Civil na época, não sabia de nada. Quem não acredita em Papai Noel sabe (ou acredita piamente) que Dirceu estava na trampa. Se Lula também sabia, é um grande mistério.
O projeto do PT para ficar no poder por 20 anos foi colocado em cheque. Dirceu sair solto é bom resultado pessoal para ele. Mas o conjunto do julgamento nos mostra que o partido abandonou seu discurso pela ética. Foi ali pelo meio dos anos 90 que o partido virou uma “organização” voltada para resultados. E o resultado perseguido foi “manter-se no poder”.
Não sei o que move Lewandowski. É auspicioso o rigor jurídico que ele adota para garantir o direito do famoso réu ao beneficio da dúvida. Entretanto, talvez o país precisasse de uma decisão mais política. Ele também não é tão cartesiano em seus argumentos. Uma hora diz que só vale o que está nos autos. Na outra, cita como relevante matéria de jornal da semana passada. Para o emérito juiz, o depoimento de Roberto Jefferson não vale, pois ele é inimigo de Dirceu. Já os depoimentos de seu amigos Genoíno e outros são considerados de total idoneidade. Geisel (acho que foi ele) inventou a democracia relativa. Lewandowski vai entrar para a história do nosso Judiciário inventando a justiça relativa.
Na verdade, ali no tribunal vemos a prova cabal de que não adianta passarmos procuração a outros para nos protegerem. Temos a eleição nesse domingo, para mal ou bem colocar no poder quem queremos ou expelir aqueles que consideramos canalhas. Nós temos que cuidar disso. O juiz Lewandowski é apenas um rábula poderoso fazendo o que sua consciência orienta, ou o que suas crenças jurídicas determinam ou o que seus compromissos políticos exigem. Ou seja, o problema está em nossas mãos. No mais, que Deus olhe por nós.
Gestantes Precoces e Salários Menores para Negros e Mulheres
Esta foi a capa de O Globo de 13.05.12:

Este é um daqueles artigos que me assegurarão o direito, no futuro, de concorrer como candidato da extrema direita no Brasil, ou na França ou Grécia, onde estes caras já fazem sucesso. Não que o artigo seja preconceituoso. Mas o preconceito da ignorância atual é atacar qualquer coisa que aponte que os pobres são pobres por outros motivos além da culpa dos ricos.
A coluna da direita da capa do jornal trazia estatísticas desfavoráveis a negros e mulheres em relação a salários. Sem dúvida os negros atingem menores níveis nas carreiras e seus salários são menores. O grau de instrução conquistado pelos negros é menor, o que lhes dá menos oportunidades no mercado. Há o fator preconceito, mas acho este menos relevante que o puro e simples menor acesso à educação. Mas o que isso tem a ver com a bela menina grávida que aparece do lado esquerdo da foto? Continue lendo “Gestantes Precoces e Salários Menores para Negros e Mulheres”
