Por que tanta discussão sobre Monteiro Lobato? Acho que a garotada não está lendo Lobato. Quando mirim, viajei nas histórias desse gênio brasileiro. Uma criança hoje, se der sorte de gostar de ler, vai ler Harry Potter. A babaquice dessa discussão sobre o preconceito racial de Monteiro Lobato pelo menos trouxe seu nome para ser comentado na imprensa e, talvez, nas escolas. Quem será que lê hoje o magnífico A Chave do Tamanho? Reinações de Narizinho? Líamos estes livros antes do dez anos de idade. Imaginávamos as histórias em nossas cabeças, criando fantasias em 3D. Hoje, não precisam, tem Avatar. Por que darmos atenção ao Visconde de Sabugosa? A Universal criou o parque do Harry Potter em Orlando, na Flórida. Se fôssemos um pouco mais cultos e déssemos valor a nossa cultura, teríamos um grande parque temático chamado Sítio do Pica-Pau Amarelo, provavelmente em Minas. Este post é só pra mostrar minha rabugenta indignação com a falta de respeito por aquele que me despertou para o prazer da leitura.
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Pornopopéia [Reinaldo Morais, Objetiva, 2009]
Gostei da jornada pornográfica da Reinaldo Morais. Começando pelos méritos menores, é um exemplar de boa pornografia. Mas Reinaldo escreve bem. Sua linguagem chula é de alto nível. O texto rola fácil. A grosseria da vida do Zeca da história tem embrulho de luxo. Sua odisséia de drogas e sexo não pede compreensão ou explica qualquer coisa. O humor aparece nas enrascadas e comentários despudorados de um cara com visão radical da utilidade das mulheres. Depois falo mais. Pode comprar e ler que vale a pena.
Escrevemos em 12.12.10: Ainda não lemos. O site Submarino traz em sua resenha: “Pela sua atualidade e também pela maneira como o autor domina o texto – de ritmo nervoso, ecoando o que se diz nas ruas, e não nos departamentos de literatura -, Pornopopéia é uma experiência única. E seus efeitos não são passageiros.” Arnaldo Bloch, em sua coluna de 11.11.10, de O Globo, diz que o livro de Reinaldo lhe trouxe uma “experiência de leitura que, em termos de impacto e imersão, só teve paralelo quando ele leu Grande Sertão Veredas”. Quer mais? Vou dar um jeito de ler. Deixo pra vocês um trailer da epopéia de Reinaldo:
Vai, senta o rabo sujo nessa porra de cadeira giratória emperrada e trabalha, trabalha, fiadaputa. Taí o computinha zumbindo na sua frente. Continue lendo “Pornopopéia [Reinaldo Morais, Objetiva, 2009]”
Homens que não amavam as mulheres [Stieg Larsson, Companhia das Letras, 2005]
pode comprar. o livro é muito bom! eu garanto.
Em tempo: O filme do livro estréia no Rio em 14 de maio de 2010. Foi feito na Suécia. Mas um caso para conferirmos se acorre a sina das adaptações para o cinema serem piores que os bons livros. A conferir.
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Li o livro nos primeiros dias de 2010. Ficou como candidato a melhor livro do ano. Na realidade, “Homens que não amavam as mulheres” é de 2005. Foi o primeiro volume de uma trilogia. Um detalhe é que o autor morreu aos 50 anos, em 2004, vítima de um ataque cardíaco, logo depois de terminar a obra. Como Larsson era engajado em campanhas – por exemplo, contra a “exploração de mulheres” – que pode ter gerado alguns inimigos pouco tolerantes, a teoria do assassinato do autor tem adeptos. Continue lendo “Homens que não amavam as mulheres [Stieg Larsson, Companhia das Letras, 2005]”
O Seminarista [Rubem Fonseca, Agir, 2009]
Thriller típico de Rubem Fonseca. Dessa vez, o paradoxo maior é o personagem principal ser um ex-seminarista. Da mesma forma que Fonseca utiliza o gosto pelos clássicos de seu famoso personagem, o detetive Mandrake, o seminarista gosta de citar aforismos em latim. O enredo não é tão novo. O metódico assassino de aluguel recebe seus “serviços” através de uma figura chamada com precisão de “o Despachante”. O herói sai de sua rotina profissional eficiente e bem sucedida tentado por uma mulher. Sempre elas! Continue lendo “O Seminarista [Rubem Fonseca, Agir, 2009]”
A Elegância do Ouriço [Muriel Barbery, Companhia das Letras, 2008]
Comprei por impulso. Estava na Livraria da Travessa. Alguém tinha comentado comigo que o livro era bom. Arrisquei. Não fui feliz.
O livro é fraco. A autora Muriel Barbery tem estilo pomposo mas sem substância. O tema do livro é a sofisticação e a mediocridade. O quanto isso pode ser encoberto nas pessoas por aparências, classes sociais e idades. É tema difícil. Ela foi pela abordagem fácil, caricaturando os personagens. Continue lendo “A Elegância do Ouriço [Muriel Barbery, Companhia das Letras, 2008]”
O Negativo [Ansel Adams, Senac, 2001]
É um clássico da literatura sobre fotografia. Ansel Adams ficou célebre pelo rigor na qualidade que perseguiu para suas fotografias. Várias de suas fotos se encontram entre as mais vendidas no mundo. A foto Nascer da Lua sobre Hernandez (“Moonrise over Hernandez”) (veja aqui) é uma maravilha. Depois que você lê Adams contando como fez a foto, passa a amá-la mais ainda. Veja como ele conclui a foto: “Ele não encontrou o fotômetro, mas fez a exposição baseada na conhecida luminosidade de Lua – 250 velas pé. O resto, como dizem é história.” Continue lendo “O Negativo [Ansel Adams, Senac, 2001]”