Gestantes Precoces e Salários Menores para Negros e Mulheres

Esta foi a capa de O Globo de 13.05.12:

Este é um daqueles artigos que me assegurarão o direito, no futuro, de concorrer como candidato da extrema direita no Brasil, ou na França ou Grécia, onde estes caras já fazem sucesso. Não que o artigo seja preconceituoso. Mas o preconceito da ignorância atual é atacar qualquer coisa que aponte que os pobres são pobres por outros motivos além da culpa dos ricos.

A coluna da direita da capa do jornal trazia estatísticas desfavoráveis a negros e mulheres em relação a salários. Sem dúvida os negros atingem menores níveis nas carreiras e seus salários são menores. O grau de instrução conquistado pelos negros é menor, o que lhes dá menos oportunidades no mercado. Há o fator preconceito, mas acho este menos relevante que o puro e simples menor acesso à educação. Mas o que isso tem a ver com a bela menina grávida que aparece do lado esquerdo da foto? Continue lendo “Gestantes Precoces e Salários Menores para Negros e Mulheres”

Eh, ôô, vida de gado Povo marcado, ê Povo feliz

Tava voltando do trabalho na 6a feira. Carro com ar condicionado me isolando do Rio suarento de fim de expediente. O tempo fecha e a chuva torrencial cai lavando os camelôs e adjacentes nas calçadas. As mulheres incautas, que se meteram em calças brancas arrochadas para os avanços de 6a feira são molhadas pela chuva, deixando a roupa colada no corpo, criando efeitos possivelmente exóticos para alguns. O povo obediente, que não conseguiu convencer os patrões que a greve da polícia ia degenerar em violência por toda a cidade, este povo miúdo espera quieto o aguaceiro passar. Dentro do meu casulo móvel desloco-me para a Zona Sul pelo Aterro que ameaça encher, apesar de ser plano e junto da baía. Quando chega o Morro da Viúva, o sol aparece junto a estátua do Redentor. Sou agraciado com efeitos especiais, com direito a arco-íris. O chão vai secando. Quando adentro Copacabana, os habitantes locais não dão mostras de temerem a chuva diluviana que eu presenciara. A juventude em roupa de praia retorna para casa com o senso do dever cumprido nas reverências feitas ao deus Sol que se despede lá para os lados da Zona Oeste, digo, Barra da Tijuca. Me apiedo dos humildes trabalhadores umedecidos que abandonei no Centro. Como sofrem esses moços.

Dia seguinte: os jornais informam que o Cordão do Bola Preta levou cem mil pessoas a descer a Rio Branco em êxtase carnavalesco. Ê povo feliz!

sou contra o heliporto da Lagoa

Eu e muita gente. Certamente somos mais do que os bacanas que deixam seus carrões nos estacionamento da área de pouso e decolagem de helicópteros para irem para suas casas em Angra ou Búzios. Nada contra os bem ricos. Mas não gosto que uma parte da Lagoa Rodrigo de Freitas seja ocupada para que os endinheirados possam passar batidos pelos engarrafamentos. Me tira do sério ter que interromper minha caminhada na Lagoa para que o helicóptero do milionário possa aterrissar. Há outras mazelas da existência do heliponto por ali. O barulho do tráfego de fim de semana é alto e perturba os moradores da Lagoa. A canalização do tráfego gera risco para uma área urbana densamente povoada. Quando cair um helicóptero em cima de um prédio, os governantes dirão que foi uma tragédia, criarão uma comissão de inquérito, a imprensa fornecerá os números do intenso tráfego e, talvez, mude alguma coisa. Mas aí, irreparavelmente, já terá morrido alguém. Parafraseando outros movimentos: Desocupem a Lagoa. Por sinal, é heliponto ou heliporto, ou valem os dois?

e eu não conheço Michel Teró

Acreditem! Nunca ouvi o afamado hit ‘Ai se eu te pego’. Coitado! – diriam alguns. Sorte minha! – digo eu. Escapei dessa. O motivo da minha saudável ignorância pode ser não participar de festas do momento, em que a música deve ser tocada. É a concessão à mediocridade popular. Chego a consigo ler sobre o fenômeno musical (?). Mas perseverei em manter a condição de inviolabilidade de meus ouvidos a essas novidades da temporada. Talvez esteja perdendo o nascimento de uma estrela. Prefiro correr o risco. Como benefício, mantenho intocável minha fama de intratável. De todo jeito, desejo todo o sucesso ao rapaz.

temos medo de sair às ruas com câmeras fotográficas

É uma característica do brasileiro nos centros urbanos. Temos a certeza de que estamos sempre sendo observados como alvos potenciais para um assalto. Uma câmera, em particular as DSLR mais chamativas, é o típico objeto de interesse dos assaltantes de rua. Dá medo sair com uma na rua. As vendas de câmeras parecem evidenciar o receio do brasileiro de sair às ruas com máquinas mais vistosas. Matéria do site G1 mostra que no Brasil só 1% das máquinas vendidas estão na faixa das DSLR. No mundo, este percentual está em 10%. Um fato que comprova a paranóia dos usuários das câmeras fotográficas maiores é apreciado quando se vai, por exemplo, a pontos turísticos onde a segurança é maior. O Jardim Botânico do Rio é um caso desses. Por lá, como de repente, aparecem vários fotógrafos portando seus equipamentos mais sofisticados. No Centro da cidade do Rio de Janeiro, quase não se vê os ousados fotógrafos. Continue lendo “temos medo de sair às ruas com câmeras fotográficas”

Ridícula polêmica em torno de anúncio de Gisele Bündchen para Hope

à direita: nossa sugestão para o uso da figura feminina nas publicidade nacional

Por que dar espaço para pessoas reclamarem de uma propaganda engraçada, que brinca com o poder das mulheres em usarem sua beleza para negociar com seus parceiros? Patético! Gisele é uma das mulheres mais bem sucedidas do mundo. O anúncio é uma brincadeira com as clássicas negociações que acontecem nas relações. Mostrar Gisele, mesmo que rapidinho, é um colírio para os olhos (a essa altura, já posso ser enquadrado como sexista). Foi uma brincadeira de bom gosto. Mau gosto é ver pessoas com a cabeça mal resolvida se aproveitarem da peça de propaganda para aparecerem. Continue lendo “Ridícula polêmica em torno de anúncio de Gisele Bündchen para Hope”