De acordo com o pastor Malafaia, apenas na Matriz Assembleia de Deus Vitória em Cristo há 180 máquinas de cartão de crédito. Claro que, como qualquer comerciante, as igrejas preferem receber a grana em dinheiro vivo ou pix, mas se o crente (vá acreditar muito assim nos quintos dos infernos) quiser se endividar e pagar no cartão de crédito, o dízimo será bem-vindo. Vade retro.
Expansionismo na moda
Numa conferência de imprensa, o presidente eleito Donald Trump recusou-se a descartar o uso da força militar ou da coerção econômica para tomar a Groenlândia e o Canal do Panamá. Também comentou que o Canadá deveria virar o 51o estado americano, que existe, segundo ele, definido por linhas artificiais de fronteiras. Sugere usar força econômica para forçar o Canadá a se integrar aos EUA. Sensacional. A gente achando muito as pretensões de Putin pela Georgia e o leste da Ucrânia. E Maduro quer pedaço da Guiana, junto com o petróleo, claro. Israel aumentando sua área junto à Síria, sem muita crítica da comunidade ocidental, se é que houve alguma. Tempos estranhos... Imagina só Bolsonaro querendo anexar a Província Cisplatina.
Alguns líderes deixam os feridos pelo caminho
Escreveu John Bolton, antigo conselheiro de segurança nacional de Trump, no NYT: "Os nomeados por Trump devem lembrar-se de que, embora ele escape sempre às consequências, os seus apoiadores leais não o fazem." Traduzindo para o português: "Os apoiadores de Bolsonaro devem lembrar-se de que, embora ele escape sempre às consequências, os seus apoiadores leais não conseguem isso."
Enfim o segredo de ficar rico está disponível para todos: saiu o livro A Receita – como enganar muitos e sorrir
Há mais de dez anos, Ernesto Friedman escreveu ensaio aqui em Polemikos onde mostrava em linhas gerais o modelo de ganhos financeiros que vem há décadas encantando e extraindo dinheiro de milhares de ingênuos. Alguns espertos dominam as técnicas que Friedman resolveu compartilhar com toda a humanidade. Seu novo livro A Receita – como enganar muitos e sorrir está na Amazon. Vale a pena se aprofundar nas regras para extrair dinheiro dos outros. Se você não pretende se aproveitar dos outros, A Receita serve como um guia para se proteger dos esquemas que os praticantes dA Receita aplicam todo o tempo. Afinal, o modelo dos esquemas dA REceita é radical: ou você conhece e, se quiser, aplica nos outros, ou você será a vítima. Você decide.
Claudio Urubu
Morreu Cláudio Urubu. Quem sabe sabe. Seu nome era Cláudio Azeredo. Muitas notas na internet relatam sua saída de cena. Eu alimentava a esperança de ir a Miguel Pereira para jogar conversa fora com o amigo de juventude. A ideia foi adiada tantas vezes. Não fui. Não vai rolar.
Cláudio era uma figura. Os relatos destacam suas composições em parceria com Raul Seixas. Foram cerca de trinta músicas. Adoro “cowboy fora da lei”, mas Cláudio foi mais que isso. Talvez tenha sido a justa definição do maluco beleza ou um verdadeiro porra louca.
Cláudio tinha característica marcante. Entrava de cabeça no que fazia. Não veio de brincadeira. Fez escola de educação física. Era quase um atleta. Faixa verde de karatê, era bom professor. Deu aula pra mim e outros da Turma do 80. Dominava os katas. Os executava com perfeição. Tinha um pastor alemão super treinado. Por quem? Por ele. Bonito de ver quando o cão encostava no dono para atravessar a rua. Íamos no Jardim de Alah para Alfie (seria esse o nome?) correr e gastar as unhas.
Cláudio pintava miniaturas e tecidos. A garrucha de plástico pintada por ele parecia de verdade e fazia bom papel numa decoração de parede. Não era bom em esportes com bolas. Gostava muito do vôlei, mas não teve o amor correspondido. Era bom para movimentos bruscos. Lhe faltava a leveza para controlar a bola. Tinha competência no xadrez. Quantas vezes não montamos uma mesa de areia na praia do Leblon para jogar em tabuleiro improvisado. Tinha voz poderosa. Era um show de anarquia ele entoar trechos do Barbeiro de Sevilha na madrugada da Afrânio. Bom parceiro na sinuca da praça General Ozório. Não tínhamos dinheiro. A sinuca era diversão certa e barata. Idas ao banheiro para cheirar algum estímulo lhe davam confiança no taco, mas pioravam seu jogo. A sinuca era seguida do protocolar caldo de cana vendido na esquina da Pirajá com Jangadeiros. Era o que bastava. A grana ou a falta dela geravam boas oportunidades para inventar o que fazer. Uma caminhada conversando do Leblon ao fim de Ipanema funcionava como programa da noite.
Era um bom companheiro. Que não se esperasse dele comedimento. Liderava a ousadia nas aventuras na Zona Sul. Era um anarquista. De carro, aprontávamos nas madrugadas. Era criativo. Por que não roubar gasolina dos tanques dos carros estacionados no Bar Vinte se bastava introduzir um tubo no tanque e sugar o combustível para uma garrafa plástica? Mexer com as meninas nos pontos de ônibus? Outras maluquices beleza menos confessáveis foram perpetradas. Um quibe com coca-cola no fim de noite num boteco da Prado Junior ou um pedaço de pizza na Guanabara forravam o estômago antes de ir dormir.
As drogas rolavam. Num verão, a maconha sumiu do mercado, substituída pelo pó, oferecido a preço de ocasião. Eu estava em sua casa quando o pessoal experimentou a primeira carreira. Depois desse verão, as experiências esporádicas com Mandrix e ácido deram lugar ao mercado robusto da branquinha. Cláudio foi fundo nesse formato.
Nossos contatos foram minguando. Eu era o CDF fazendo engenharia da PUC e ele investia forte na criação musical. Cláudio competia com Paulo Coelho na posição de parceiro do Raul.
Cláudio se exilou em Miguel Pereira. Uma vez nos encontramos e me mostrou que lhe faltava um dos dentes da frente. A explicação: uma égua arredia lhe retirara o dente com um coice. Nada de excepcional. Notícias cada dia mais esparsas davam conta que estava criando galos de briga. Como era de seu feitio, acredito que seus animais eram os melhores treinados.
Depois disso, só o contato mais recentes com vídeos de YouTube tratando do roqueiro beleza recluso em Miguel Pereira. E veio a surpresa. Um problema no coração, uma cirurgia, dificuldades posteriores e Cláudio se foi. Que merda, não fiz a planejada viagem a Miguel Pereira.
Dona Cecília Maggessi Neira
Um dia teria que escrever sobre ela. Não é todo mundo que conhecemos pelo nome todo. Li hoje uma crônica do Artur Xexéo sobre uma tia (na verdade, uma amiga de sua mãe) de que se lembrava, de sua infância. E lembrei dela mais uma vez. Quem é ela? Dona Cecília Maggessi Neira. Como consigo lembrar de seu nome completo depois de sessenta anos? Tem um bom motivo. Ela foi minha professora por todo o primário na Escola México, ali em Botafogo, entre a Voluntários e São Clemente. Era de praxe, nas aulas de português, que preenchêssemos o cabeçalho da folha de papel com pauta que receberia nossos garranchos com nosso nome e… o nome da professora. Por certo, o nome de Dona Cecília foi aquele, além do meu, que mais escrevi de próprio punho em toda a vida. Continue lendo “Dona Cecília Maggessi Neira”