Oscar de Melhor ator

será que ele ganha?

O cinemão americano se habituou a produzir filmes destinados a concorrer ao Oscar de Melhor Ator (ou Atriz). A fórmula é bem conhecida. Seleciona-se um ator com alguma fama estabelecida e escolhem-se personagem e roteiro que o façam aparecer bastante no filme, de preferência, com certa proximidade da câmera, para que possamos apreciar as caras e bocas que faz. À fórmula padrão, acrescentou-se a notória patologia americana pelo bizarro. Hollywood gosta de personagens deficientes físicos ou mentais para concorrerem à categoria de Melhor Ator. Acham que estou exagerando? Vejam só o retrospecto recente dos prêmios: Continue lendo “Oscar de Melhor ator”

Assédio [L’Assedio] de Bertolucci

a beleza dos contrastes

Assédio é uma história simples. Um roteiro linear, até monótono, que pode ser resumido em poucas palavras: “um europeu que se apaixona por uma refugiada africana cujo marido está preso em seu país”. O filme resultante não deveria impressionar. Talvez fosse atraente a um ou outro romântico para assistir na tevê por assinatura. Mas Assédio não corre este risco. É um Bertolucci. É um belo e envolvente filme do diretor de 1900, O céu que nos protege e Beleza Roubada. Mais uma vez, Bernardo Bertolucci é bem sucedido em roubar a beleza das emoções dos personagens e nos passá-la em primorosa embalagem.

O filme Assédio se constrói sobre os contrastes. A começar por colocar, numa mesma casa, a empregada africana que fugiu do país por motivos políticos, e um rico herdeiro europeu. Esta diferença de culturas é explorada por todo o filme. Das imagens ásperas da miserável África, somos levados a uma belíssima vila italiana onde Mr. Kinski (David Thewlis) consome preguiçosamente o tempo compondo e dando aulas de piano. Com esse contraste original dos personagens, a partir de uma repentina e direta declaração de amor, Bertolucci nos apresenta as mudanças na vida dessas duas criaturas. O paulatino empobrecimento de Mr. Kinski, a evolução de sua música, vão diminuindo a distância entre os personagens. Shandurai (Thandie Newton) passa eternos momentos tentando retirar a inexistente poeira das obras de arte que enchem a casa. Talvez tentando limpar permanente poeira que recobria sua vida na África. O processo do empenho dos bens materiais do ariano Mr. Kinski também é uma boa metáfora da dívida (ou culpa?) européia para com o vizinho continente negro. A idéia da redução da opulência da Europa para minorar o sofrimento terminal da África deve cutucar o europeu que vê o filme. Nós brasileiros, não temos este senso de diferença, convivemos permanentemente com os extremos de riqueza e miséria. Nossas culpas ficam por aqui mesmo, estão amortecidas, e vão, no máximo, até a favela mais próxima.

A bela mansão e o cotidiano de seus habitantes é explorada por certeira fotografia que bem se utiliza da arquitetura e dos fortes tons pastéis dos interiores. Som e fotografia quase se equiparam em importância nesse filme. Os diálogos pouco importam frente às expressões dos atores e à música. A música africana e a erudita são utilizados por Bertolucci para realçar as diferenças e a aproximação entre os personagens.

A atriz Thandie Newton é algo a parte dentro do filme. Sua beleza mestiça é realçada pelo fotógrafo com qualidade que se equipara a descoberta de Liv Tyler, em Beleza roubada. Quem assistiu Missão Impossível II, pode comparar como o pretenso charme do personagem de Thandie Newton no filme é ridículo frente às intensas imagens da bela Shandurai em Assédio. Mas, convenhamos, a especialidade de John Woo não é mostrar a beleza feminina.

O filme de 1998 só nos chega agora, mas já é um dos melhores lançamentos do ano 2000. É delicioso se entregar a leitura dos parágrafos de imagens criadas pelo italiano Bernardo Bertolucci, onde os detalhes proporcionam prazer como a leitura de um Machado de Assis, onde, todo o tempo, a história e o como ela é contada competem pela nossa atenção. Bertolucci brilha.


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Perdemos Kubrick

um dos maiores diretores do século XX

No final da semana passada (março de 1999), morreu o diretor de cinema Stanley Kubrick. Seu nome esteve sempre associado ao novo e o melhor cinema que chegava às telas de tempos em tempos. Ele foi como um Spielberg mais sofisticado e menos preocupado em atender às exigências do mercado. Não fazia cinema para o público. Kubrick criava e educava espectadores do cinema. Continue lendo “Perdemos Kubrick”

Além da linha vermelha [The thin red Line]

o superficial e o profundo

A semana de cinema no Rio coloca ao alcance do público dois filmes extremos. De um lado tem Mensagem Para Você (You’ve got mail) e, de outro, Além da Linha Vermelha (The Thin Red Line). É interessante como cada um realça as características do outro. Senão vejamos. Mensagem Para Você é cinema de oportunidade. O objetivo é a comédia amena, alegrinha, com o casal de atores da moda nos EUA. A roteirista Nora Ephron é especialista em escrever historinhas desse tipo. Foi ela a responsável pelo bem sucedido Harry e Sally. O tema do relacionamento na Internet é tratado com glamour. As simplificações e estereótipos são usados à larga para construir um produto de lazer sem compromisso. E consegue. Podia ser melhor, mas provavelmente, no futuro, com uma bacia de pipocas do lado, será um programa leve e agradável assistir Meg Ryan e Tom Hanks na tela de uma TV por cabo ou, falando de futuro, num provedor de cinema na Internet.

Por sua vez, Além da Linha Vermelha, do diretor Terrence Malick, é uma obra-prima de cinema. Continue lendo “Além da linha vermelha [The thin red Line]”